ALUGUEL

Mulher assina contrato, mas conta chega em nome do homem 'e outra'

Ela contesta porque seu nome não pode chegar no boleto, já que ela assinou o contrato de aluguel e o casal estabeleceu desta forma a divisão das contas da casa

Por JULIANA BAETA
Publicado em 10 de março de 2015 | 11:22
 
 
 
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Um casal de publicitários Érica Navarro, de 28 anos, e Fernando Cravieé, de 31, surpreendeu-se com a chegada do boleto do aluguel da casa onde moram. A correspondência chegou com o nome dele ao invés do dela - que assinou o contrato - seguido por "e outra".

No Facebook, Érica expôs o boleto e a indignação. À reportagem, ela contou que o casal se mudou para a casa, no centro de Belo Horizonte, em agosto de 2012. "Na época eu tinha assinado o contrato, porque estava ganhando mais do que ele e porque decidimos adotar assim a divisão das contas da casa. Mas na imobiliária, percebi que a senhora que nos atendia ficou sentida com isso. Ela dizia que ele iria ficar constrangido, que ia ficar chato pra ele. Acabamos decidindo colocar o nome dele no contrato também, para facilitar caso precisássemos comprovar a união estável", conta.

Ela diz que não entende qual o critério para isso ter acontecido, uma vez que o documento contratual é assinado por ela como locatária, e seguida pelo nome do companheiro. "Não há nenhum critério, nem o alfabético, que poderia ser uma justificativa do banco, mas aí meu nome viria primeiro, de qualquer jeito. Na época que começou a chegar a conta assim a gente deixou pra lá, por questão de tempo mesmo, mas no domingo [8], motivada por tantas outras coisas, isso me revoltou e eu comecei a questionar o motivo de não ter o meu nome no boleto do aluguel. Então quer dizer que só ele que trabalha e paga as contas? Ele que tem o dever de prover o sustento da família só porque é homem?", relata.

O casal conta que não chegou a procurar a imobiliária, mas que pretende tomar providências em relação a isso. Fernando afirma que o fato de a mulher ganhar mais, tampouco o constrange. "Eu acho mais do que natural, afinal, nós dois trabalhamos na mesma área e ela está nisso há mais tempo que eu, ela tem muito mais experiência do que eu. Vejo com total naturalidade o fato de ela receber mais, é um reflexo do trabalho dela. Não acredito nessa distinção de gênero  e não concordo com o fato disso ainda existir no mercado de trabalho, não faz sentido algum", conta.

A vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) Maria Berenice Dias, acredita que isso é um resquício da ideia retrógrada de que o homem deve prover o sustento da casa. "Ainda é um ranço dessa ideia de que o homem é o cabeça do casal, e isso é uma coisa que não existe mais, não cabe hoje. Acho que as pessoas tem que reivindicar por mudanças como essa sim, se não, não vai mudar nunca", diz.

É o que Érica pretende fazer, conforme finaliza em sua indignação na rede social: "Não somos OUTRAS de ninguém. Solteiras, casadas, divorciadas ou viúvas, somos donas do nosso próprio corpo e mente, somos indivíduos e merecemos direitos e respeito como qualquer ser humano. Não precisamos de homens nem de ninguém decidindo o que podemos falar, vestir, comer, filmar, fazer. Lutamos hoje, amanhã e depois, e seguimos lutando até que nossos direitos sejam de fato realidade". 

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