No Anchieta

Mulher morre após plástica que durou 7h e família denuncia erro médico em BH

Norma Eduarda de 59 anos morreu no último dia 17 de abril, após 62 dias de internação; filho denuncia longa duração do procedimento e descaso do cirurgião no pós-operatório

Por José Vítor Camilo
Publicado em 26 de abril de 2024 | 21:31
 
 
 
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A família e amigos da servidora pública Norma Eduarda da Fonseca, de 59 anos, ainda tentam se acostumar com a ideia de não tê-la por perto. Depois de 62 dias lutando por sua vida, a mulher que trabalhava na UFMG morreu na última semana em decorrência de complicações que se iniciaram um dia após ela passar por uma série de cirurgias plásticas que teve 7h de duração. Em meio ao luto, agora os familiares lutam para provar o que eles acreditam serem erros médicos do cirurgião. 

O empresário Gustavo Botelho, de 29 anos, filho de Norma, conta que a mãe fez a cirurgia no dia 5 de fevereiro deste ano em um hospital particular localizado no bairro Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Todo o planejamento e acompanhamento pré-operatório foram realizados na clínica do cirurgião, que atende em uma clínica no bairro Anchieta, na mesma região. 

"Ela fez cinco procedimentos de uma vez, e a cirurgia teve uma duração total de 7h, o que é desaconselhado por qualquer cirurgião e pelos órgãos reguladores. Ela tinha 58 anos quando fez as plásticas, e completou 59 internada no hospital por conta das complicações", lembra, emocionado, o filho da mulher. 

Liberada no dia seguinte ao procedimento, pouco depois Norma começou com sintomas como vômito, diarreia, inchaço abdominal, além de indícios de necrose nos locais operados. "Quando ela começou com estes sintomas, entramos em contato com o cirurgião e não fomos bem atendidos. Faltou muito profissionalismo. A gente não teve um atendimento de perto do médico, não se prontificou nem a visitá-la, mas apenas respondeu por mensagens", denuncia Botelho. 

Cerca de 10 dias depois do procedimento, Norma já estava internada para o tratamento das complicações sofridas, sendo constatada uma infecção por bactéria hospitalar multirresistente. Apesar do esforço da equipe médica e de diversos procedimentos cirúrgicos, no último dia 17 de abril a servidora pública teve a morte confirmada por falência múltipla de órgãos. 

"Acreditamos que o erro médico começa no planejamento da cirurgia com a duração mais prolongada do que o recomendado. Sem falar na ausência dos cuidados pós-operatórios. Por isso, procuramos a Polícia Civil para registrar um Boletim de Ocorrência e fazermos a necrópsia", completou o filho de Norma. 

A Polícia Civil foi procurada por O TEMPO, mas, até a publicação da reportagem, a instituição policial ainda não tinha se manifestado. 

Clínica foi multada por esterilização irregular

Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que a Vigilância Sanitária (VISA) vistoriou a clínica do médico que fez a plástica da servidora pública que morreu, tendo constatado irregularidades no processo de esterilização. Por conta disso, o estabelecimento foi multado em R$ 9.979,53. 

"O estabelecimento não possui nenhuma denúncia registrada e está em processo de renovação de Alvará Sanitário, o que não impede o funcionamento do local", detalhou o município. 

O hospital particular onde o cirurgião realizou o procedimento também está em processo de renovação do Alvará Sanitário. O local foi vistoriado no dia 10 de abril após uma denúncia nos canais oficiais do município. Durante a vistoria, a VISA identificou algumas irregularidades, o que resultou em multas que somam R$ 16.965,20, mas que não impedem o funcionamento do local. 

"É importante destacar que há um prazo legal de 20 dias para a adequação das inconformidades. Cabe destacar que a VISA realiza a interdição de estabelecimentos em casos do não cumprimento dos itens considerados críticos na legislação ou em situações de risco iminente à saúde pública", concluiu o município. 

O TEMPO tentou contato com a clínica e com o hospital, mas ambos ainda não se posicionaram sobre as denúncias da família. 

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