Menos de 24h após a reportagem de O TEMPO denunciar na quarta-feira (5) uma agência de turismo de Belo Horizonte por dar calote em dezenas de pessoas, o número de vítimas subiu de 16 para 54 pessoas e o prejuízo causado já está próximo dos R$ 400 mil. A informação foi confirmada pelo advogado que representa a maioria das vítimas.
A empresa, chamada Next Stop, possuía dois registros: um de Micro Empreendedor Individual (MEI), no nome de uma mulher, que era quem fazia todo o contato com os clientes; e uma empresa com o mesmo nome fantasia, inclusive cadastrada no sistema do Ministério do Turismo, que tem como sócio um homem, que segundo informações seria namorado da suspeita. O segundo CNPJ, agora, consta com outro nome de empresa.
Para conseguir clientes, eles ofereciam passagens e pacotes com preços muito baixos. Após a venda, eles entregavam apenas uma parte dos produtos, para que os "clientes" satisfeitos indicassem a agência para outras pessoas, que seriam suas novas vítimas.
De acordo com o advogado Carlos Eduardo Teixeira de Godoi, após a reportagem, dezenas de vítimas o procuraram, sendo que, das 54 pessoas que ele representa, só foram contabilizados os valores pagos por 48 delas e quantia perdida já chega a R$ 356 mil.
"Acredito que, quando terminamos de somar os prejuízos dos demais clientes, certamente deverá ultrapassar os R$ 400 mil. Com isso, acredito que o caso deve ser repassado à Delegacia Especializada em Estelionato, o que só ocorre quando o golpe supera os R$ 100 mil", conta o defensor das vítimas.
O golpe
A reportagem de O TEMPO conversou com uma das vítimas, que preferiu não ser identificada, e que contou que chegou até a Next Stop por indicação de conhecidos. "Compramos 10 passagens, para toda a família, para uma viagem internacional. Faltando uma semana soubemos de duas famílias que tiveram problemas com a agência, passagens canceladas na véspera e até pessoas que ficaram presas em outro país sem o bilhete do retorno", detalha a vítima.
Três dias antes do tão aguardado passeio em família, a dona da agência confirmou que as passagens seriam emitidas e pediu que todos fizessem o exame de PCR, exigido para o voo. A família fez os testes, mas, até o dia da viagem, a suspeita sumiu, não respondendo mensagens ou dando desculpas. "Até hoje não vimos o nosso dinheiro de volta, foram R$ 17 mil de prejuízo", lamenta a mulher.
Um grupo de três amigos também foi lesado pela agência, após adquirir passagens para assistir à final da Copa do Brasil em Curitiba. Eles receberam a indicação de um colega de um grupo de torcedores do Atlético. "Foram R$ 2.200 reais para nós três, fiz o PIX e, no dia seguinte, comecei a achar estranho. Questionei algumas coisas e pedi o cancelamento. Ela disse que estava tudo bem, mas que a devolução do dinheiro seria demorada por causa do sistema das passagens", detalha.
A partir daí, começaram as desculpas. "Ela sempre fala como se fosse uma empresa grande, que deu problema no jurídico, que tinha perdido a senha do banco, que o WhatsApp estava instável. Hoje ela já nem responde mais. Ainda não fiz BO, mas estou aguardando para entrar com uma ação nas pequenas causas", afirma o jovem.
Procurada, a dona da empresa indicou apenas um contato de uma pessoa que seria seu advogado, porém, o suposto defensor não respondeu a reportagem de O TEMPO até a noite desta quinta-feira (6).
Já o homem, que tinha um CNPJ com nome da Next Stop e que hoje foi renomeado, negou qualquer envolvimento com a agência de turismo ou com a mulher que fazia os contatos com as vítimas.
"A situação dessa empresa é lamentável, mais uma empresa que fecha as portas assim como a Itapemerim e outras grandes empresas que faliram, essa é apenas mais uma. Onde essa pessoa está, o que está fazendo, eu realmente não sei te informar", disse.
Vítimas devem procurar delegacias
Procurada, a Polícia Civil (PC) informou que já está apurando os fatos relatados contra a agência Next Stop e que, por se tratar de eventual prática do crime de estelionato, é preciso que as vítimas formalizem a representação, com contrato de prestação de serviço ou outros elementos de provas, e prestem depoimento.
"A PC esclarece que a pessoa que se sentir lesada deverá comparecer a uma delegacia mais próxima e registrar a ocorrência com a devida representação. A Polícia Civil informa, ainda, que constatada a conduta criminosa o responsável poderá responder pelo crime de estelionato, com pena de 1 a 5 anos, conforme previsão legal", finaliza a nota.