BARBACENA. Há quase sete meses, o estudante de medicina Henrique Papini, 22, precisa reinventar sua rotina diante das sequelas deixadas pela agressão que sofreu no feriado em 7 de setembro do ano passado. Surdez do ouvido esquerdo, paralisia facial, dificuldades em sentir cheiro e gosto, além de problemas na visão e no equilíbrio são algumas delas.
Papini foi agredido após sair de uma festa na boate Hangar 677, no bairro Olhos D’Água, na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Ele foi jogado no chão e levou vários chutes na cabeça. O principal suspeito, Rafael Bicalho, 19, teria sido motivado por ciúmes, porque o universitário “ficou” com sua ex-namorada. “Tomei chute por todos os lados, perdi a consciência e não me lembro de mais nada. Se as pessoas não tivessem separado, eu poderia ter morrido”, diz. Quatro suspeitos foram indiciados pela Polícia Civil por tentativa de homicídio e respondem a processos na Justiça.
O jovem, que costumava ser o atacante do time de futebol da faculdade, também não consegue mais praticar o esporte favorito. O semblante é mais sério por causa da paralisia facial, e a rotina, mais atarefada em decorrência de consultas médicas, além das sessões de fisioterapia e de terapia.
“Vou aos lugares agora, e o pessoal pergunta: o que aconteceu que você está triste hoje? Na verdade, é vergonha de não conseguir dar um sorriso direito, e isso me atrapalha muito socialmente”, revela o universitário em uma conversa com a reportagem no apartamento que divide com três amigos em Barbacena, no campo das Vertentes, perto da faculdade onde cursa medicina.
O semestre passado foi o mais “difícil” na vida do estudante. Ele passou mais de 20 dias no hospital enfrentando uma meningite pós-traumática. Ele teve ainda trauma de face e traumatismo craniano grave.
O apoio da família e dos amigos tem sido decisivo na retomada da rotina, incluindo a volta para a faculdade. Atualmente, Papini tenta não pensar nos agressores e focar a recuperação e os estudos. “Ele já saiu do hospital querendo estudar, em momento algum ele quis parar. Ele está priorizando os estudos, que é o objetivo de vida dele. Ele batalhou muito, não foi fácil voltar a estudar”, disse a mãe do jovem, a dentista Andréa Moraes.
Prisão. Rafael Bicalho, 19, foi preso e solto em dezembro de 2016. Para continuar respondendo ao processo fora da cadeia, ele deve cumprir ordens do juiz, como não ir a bares e boates
Minientrevista
Henrique Papini
Estudante
Quais mudanças que as sequelas trouxeram para sua vida?
Mudou muito minha rotina. Tenho fisioterapia e psicólogo quase todos os dias. Quando vou para Belo Horizonte na sexta-feira, fico por conta de fisioterapia para a paralisia facial. Eu tenho que fazer outra fisioterapia para o tratamento de vertigem, equilíbrio.
Como as sequelas afetam na prática?
Na sala de aula, por exemplo, quando chego um pouco mais tarde e tenho que me sentar atrás, eu sinto um pouco de dificuldade de escutar o professor falando. Se eu sento do lado direito, é pior ainda. Quando estou num ambiente com música, fica bem ruim de conversar. Tenho que ficar trocando de lado. Às vezes, não consigo andar em linha reta. Quando tento jogar futebol, fico tonto, ainda não consigo. É meu esporte favorito, espero voltar (a praticar).