“Não me interessa se estamos trabalhando em um projeto inovador ou se ele pode vir a se tornar um dia um cérebro artificial. O que me interessa como educador é o trabalho que estes alunos estão desenvolvendo aqui, com poucos ou quase nenhum recurso, e como eles estão se desenvolvendo com isso”. É assim que o professor de inglês do Cefet, Vicente Aguimar Parreiras, descreve a importância do desenvolvimento do robô LPLC 2013, um cérebro robótico com princípio de inteligência artificial que está sendo desenvolvido desde a década de 1990 no Brasil.
O projeto começou com a tese de doutorado do professor americano em ciência da computação, Terry Winograd, na década de 1970. Após perceber que o projeto demandava muito tempo e dinheiro, e que o resultado não daria retorno imediato, ele decidiu abandonar o que poderia vir a se tornar o primeiro protótipo de cérebro artificial do mundo.
Mas um grupo de professores mineiros começou a tocar o projeto no Cefet, em Belo Horizonte, e os resultados estão sendo divulgados pela primeira vez, depois de quase duas décadas de pesquisa. “Já temos o robô, já conseguimos resolver uma série de questões. Mas ainda estamos tentando chegar a uma solução quanto a ambiguidade linguística”, explica o estudante Gustavo Santos de Carvalho, de 17 anos, líder de hardware do projeto.
Foi por causa desse projeto, inclusive, que hoje o Cefet conta com o Laboratório de Pesquisa, Leitura e Cognição, criado inicialmente por causa do robô.
Uma das questões que já foram resolvidas é substituição da garra mecânica que o robô tinha, por uma garra eletromagnética. “Percebemos que com a garra mecânica, ele gastava muita energia. Por isso a substituímos por uma garra eletromagnética, que é um imã que ele tem no braço e faz a mesma coisa que uma garra fazia, só que por magnetismo”, explica ainda o estudante.
Ambiguidade linguística
Por outro lado, o maior impasse do projeto é em relação a ambiguidade linguística. “Por exemplo, no português temos várias palavras que podem ter mais de uma interpretação. Aí na hora de dar o comando ao robô, temos que resolver todas essas questão de ambiguidade linguística para que ele assimile isso”, explica o professor Vicente Aguimar Parreiras.
Uma das possibilidades quanto ao funcionalismo do robô no futuro, é realizar ações sob comandos. Por exemplo, um idoso que precisa tomar remédio em determinada hora todos os dias. “O robô realiza a ação na hora e vai buscar a água e o remédio. Mas para isso, ele precisa ter toda essa informação, o mapa da casa, o roteiro, a programação do horário. Mas o que ele irá fazer caso encontre uma cadeira no lugar e precise se desviar? Como ele irá fazer isso? Essa é outra questão que tentamos resolver”, explica Parreiras.
Na fase de testes, o robô entende o comando de pegar uma pirâmide e encaixar no seu espaço. No entanto, quando o comando é mais específico, como “pegar a pirâmide vermelha menor”, ele encontra essa dificuldade.
Um dos envolvidos no projeto, o estudante Luan Alisson de Carvalho, 26, formado em Filosofia e estudante de mestrado em Estudos Linguísticos, explica que, diferente do cérebro humano, um cérebro eletrônico não consegue resolver questões relativas a interpretação de texto. “Se falamos sobre manga, por exemplo, a gente consegue saber do que se trata por interpretar o contexto da frase. Saberemos se é manga de camisa ou se é a fruta. Um computador não”, explica.
Outra questão que ainda emperra o projeto, é o fato de o computador interpretar sempre a primeira palavra como um comando de ação. “É por isso que se eu falar pegue a pirâmide vermelha, ele vai me obedecer. Mas diante de outras pirâmides, ele vai perguntar. ‘qual pirâmide’?. Eu vou responder ‘a vermelha’, e ele não vai entender. Vai perguntar novamente ‘o que você quis dizer com vermelha’?”, explica o professor Vicente Parreiras.
Próximos passos
Resolvida essas questões de ambiguidade lingústica, que mobiliza os esforços e pesquisas de estudantes do Cefet, o robô já estará pronto para a fase de testes. E então, passará pela incubadora da instituição, que transforma um produto científico em comercial, para apresentação.