O atraso no repasse de recursos federais para o Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, no fim do ano passado, instalou uma crise em três dos principais centros de referência em oncologia pediátrica do Estado. Com a falta de medicamentos ainda presente e a interrupção temporária de atendimento a novos casos no início do ano no HC, a situação gerou um efeito cascata. A Santa Casa atingiu sua ocupação total. O Hospital da Baleia suspendeu novas internações e reduziu em 60% a entrada de novos pacientes no setor ambulatorial (consultas, quimioterapia e outros tratamentos).
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o HC e o Baleia estão avaliando soluções para retomar suas atividades. Uma reunião foi agendada para segunda-feira entre gestores da pasta e do Hospital da Baleia. Apesar da situação enfrentada pelas instituições, as secretarias Estadual e Municipal de Saúde garantem que nenhum paciente deixou de ser atendido desde janeiro, quando a crise começou a se instalar.
Corte. No Hospital das Clínicas, o problema começou com atraso nos pagamentos do Fundo Nacional de Saúde, pelo Ministério da Saúde, referentes a novembro e dezembro de 2014. Os repasses começaram a ser regularizados no fim de janeiro, e, desde então, o HC vem quitando dívidas com fornecedores e tentando reabastecer o almoxarifado. “Ainda há algumas faltas pontuais, mas gradativamente o hospital volta a sua rotina, inclusive na oncologia infantil”, informou o HC, em nota.
Uma fonte que conhece a situação do hospital informou que o atendimento a novos pacientes continua reduzido devido à falta de estrutura. “Semana passada não tinha medicamento quimioterápico. O produto foi adquirido, mas cada semana falta uma coisa diferente”.
Cascata. A restrição no atendimento, segundo o HC, vem sendo discutida com o gestor municipal. A interrupção, total em dezembro e janeiro, fez lotar a Santa Casa. Segundo a instituição, o atendimento está intenso no local, e, dos 17 leitos disponíveis na oncologia pediátrica, todos estão ocupados. “Só duas enfermarias, com dois leitos cada, estão inativas desde o dia 3 para manutenção da estrutura hidráulica. A reativação está prevista para a semana que vem”.
No caso do Baleia, a solução encontrada, segundo o superintendente hospitalar, Éder Lúcio de Souza, foi manter o atendimento aos pacientes já em tratamento e suspender os novos. “Estamos com nossa capacidade esgotada. Não temos condições de ampliar o serviço para absorver a demanda dos outros hospitais”, afirmou. Souza frisou que a demanda “aumentou muito nos últimos meses por conta de serviços tradicionais que foram reduzidos, como no Hospital das Clínicas”.
Balanço de cortes e de crises
Verba. A União quitou os repasses de 2014, de R$ 153 milhões. Já o de fevereiro, ainda no prazo, não foi feito, segundo a prefeitura.
Crise. Os outros três hospitais universitários do Estado (Juiz de Fora, Uberaba e Uberlândia), também sofreram atraso nos repasses. Em Uberlândia, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação para regularizar os atendimentos eletivos.
Cortes. A UFMG anunciou nesta semana a suspensão temporária do pagamento das contas de água e de luz, além de cortes em serviços terceirizados, em decorrência da ordem do Executivo para economizar 33% do orçamento.
Mais casos
A previsão é que surjam neste ano 11.840 novos casos de câncer em crianças e adolescentes até os 19 anos no país, o mesmo estimado em 2014, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A região Sudeste tem a maior incidência: 5.600. Dados ainda parciais de 2014 revelam que 930 pacientes de 0 a 9 anos foram internados na capital. Em 2013, foram 1.119. A Secretaria Municipal de Saúde ressaltou que, no ano passado, sobraram vagas para consultas nos hospitais da Baleia, das Clínicas e na Santa Casa. O mesmo aconteceu em fevereiro nas duas últimas unidades de saúde.