Região metropolitana

Padres modernos e engajados socialmente viram ‘popstars’ 

Sacerdotes têm feito fãs pelo carisma e pelo jeito simples de explicar o Evangelho

Por Luciene Câmara
Publicado em 26 de outubro de 2014 | 04:00
 
 
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Celebrar missa em latim e de costas para os fiéis é uma tradição milenar ainda praticada por alguns sacerdotes católicos, mas cada vez mais em desuso no Brasil. Há 52 anos, o papa João XXIII sinalizava que era preciso abrir as janelas das igrejas para a modernidade. Hoje, o papa Francisco é símbolo da renovação. Na região metropolitana, muitos padres têm formado legiões de fãs pelo carisma, pelo jeito simples e inovador de explicar o Evangelho e pela criatividade de ações sociais.


Tanto que a arquidiocese da capital criou o Observatório da Evangelização, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), para mapear e divulgar experiências que podem se tornar inspiração para outras comunidades. Ainda no início das atividades, o grupo já tem registro de ao menos 40 religiosos que se destacam no dia a dia missionário. “Há uma diversidade de ações, muitas ainda desconhecidas. São pessoas que conseguem mobilizar os jovens e transformam realidades”, diz o mestre em teologia sistemática Edward Guimarães, secretário executivo do observatório.

O padre Fernando Lopes, 45, da paróquia Santo Inácio de Loyola, no bairro Cidade Jardim, na região Centro-Sul da capital, é um dos mais populares. Ter o casamento celebrado por ele se tornou o sonho de muitos noivos. Atualmente, Lopes promove de três a quatro matrimônios por semana, o dobro do que fazia anos atrás. “Na cerimônia, busco transmitir a boa notícia do Evangelho”, diz.

Ao fim da celebração, ele tira selfie com os noivos e publica as fotos nas redes sociais e no site da paróquia. Lopes, que também é diretor da Rede Catedral de Comunicação Católica e coordena a campanha Faço Parte, que arrecada recursos para a construção da catedral de Belo Horizonte, tem cerca de 4.500 seguidores no Facebook. “As pessoas vão onde toca mais o coração”.

Social. Mas, antes de alcançar esse público cativo, o padre Fernando Lopes conta que percorreu longo trajeto de aproximação com a comunidade. Desde que assumiu a paróquia, em 1998, ele deu continuidade a uma série de ações sociais, como as creches que atendem pessoas de baixa renda, e também criou outros projetos. Um deles é o Mundo Novo sem Drogas, que ajuda dependentes químicos a abandonarem o vício. “O projeto surgiu depois que fizemos o apadrinhamento de jovens carentes para promover a ida deles ao Rio de Janeiro, acompanhar a visita do papa Francisco, em 2013. Eles se sentiram tão acolhidos que ficaram motivados a sair das drogas”, relata.

Natural de Jequeri, na Zona da Mata, Lopes atribui a popularidade também ao jeito “interiorano” de trabalhar. “Na cidade grande, as pessoas perdem o hábito da socialização. Na paróquia, fazemos o acolhimento, o corpo a corpo, a visita nas casas, o café na porta da igreja após a missa. As pessoas criam vínculos de amizade”.

Simplicidade
A marca do padre José Geraldo de Sousa, 51, é, sem dúvida, a simplicidade. Natural de Tarumirim, no Vale do Rio Doce, ele é conhecido por criar grupos bíblicos de reflexão e de cidadania que buscam melhorias para as comunidades. “Fazemos uma conexão da Bíblia com a realidade. Os moradores ficam responsáveis por cuidar das ruas e cobrar serviços públicos”, conta Sousa. Hoje, ele está na paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana, e, por onde passa, sempre contribui para a criação de novas paróquias e espaços de oração.

Exemplo de mobilização
O padre Hélio Parreiras de Paula, 33, já é famoso na paróquia Coração de Maria Mãe dos Missionários, em Betim, na região metropolitana, onde atua desde 2011. No mês passado, no entanto, a Gincana Solidária desenvolvida por ele ganhou repercussão nas demais comunidades da arquidiocese. Com a colaboração de fiéis de mais cinco igrejas que integram a paróquia, foram arrecadadas 3,5 t de alimentos e fraldas geriátricas para doação. O resultado, segundo ele, foi fruto de sua proximidade com as famílias e as escolas. “A participação dos jovens aumentou 90%”, diz.

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