O secretário municipal de obras da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), José Lauro Terror, negou, no fim da manhã desta sexta-feira (4), que o viaduto que desabou na avenida Pedro I, no bairro São João Batista, em Venda Nova, foi feito com pressa por causa da Copa do Mundo. Além disso, segundo ele, do ponto de vista técnico, o caso pode ser classificado como acidente.
Em entrevista coletiva na Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Terror não deu nenhum indicativo das causas do desabamento e afirmou que aguarda os resultados das perícias da Polícia Civil e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), que não têm previsão de conclusão. Segundo ele, a prefeitura repassou documentos técnicos e complementares que podem ajudar no resultado das análises.
Além disso, a PBH aguarda os resultados das perícias para realizar a demolição do viaduto Batalha dos Guararapes, que, quando acontecer, será realizada em 24 horas e de forma mecânica, em que equipamentos serão levados para a quebra das estruturas. Ainda conforme ele, primeiro serão apuradas as causas do desabamento e, posteriormente, a questão das responsabilidades.
“Eu, do ponto de vista técnico, só posso classificar o que aconteceu como um acidente”, disse Terror.
O secretário também negou que as escoras tenham sido retiradas foram do tempo previsto, uma vez que a obra seguiria um cronograma e a retirada seria realizada no prazo certo. O secretário também descartou que os pilares de sustentação do viaduto tenham afundado.
“Temos que destacar que o viaduto Guararapes não tinha prazo para ficar pronto antes da Copa. Era um projeto com prazo livre com expectativa de ficar pronto em agosto deste ano. A PBH é obrigada a cumprir prazos, porém, em nenhum momento essas questões se sobrepuseram às normas de engenharia”, explicou
A entrevista que durou cerca de 40 minutos, mas deixou muitas perguntas sem respostas, também contou com a participação do secretário municipal da saúde da capital, Fabiano Pimenta. Ele afirmou que a construtora responsável pela obra, Cowan, está arcando com as despesas dos velórios e sepultamentos dos dois jovens que morreram no desabamento.
“O sistema de emergência montado para a Copa funcionou muito bem. Estamos apoiando os feridos e, as vítimas que precisarem de apoio psicossocial, podem agendar consultas pelo telefone (31) 3277-6269”, finalizou.
Às pressas
A declaração do secretário municipal de obras vai na contramão da denúncia de um operário da construção o viaduto. "As obras funcionavam na correria, trabalhávamos de 7h às 21h, com as devidas horas extras pagas, a empresa é boa em termos de pagamento. Um engenheiro chegou a dizer pra nós, antes do início dos jogos, que a pista deveria estar liberada para o Move passar durante a Copa", diz o funcionário, que não quis se identificar.
Ainda segundo ele, a fiscalização era precária. "Durante os meses que estou trabalhando lá, nunca vi nenhum fiscal de trabalho da PBH ou de qualquer outra esfera do poder público", denuncia o operário. Ele diz estar ansioso, assim como vários colegas, com a incerteza diante do embargo das obras, além de estar preocupado com um dos operários, que ele viu ter machucado o pescoço na tragédia. "Nós costumávamos descansar, na hora do almoço ou do café, justamente debaixo do viaduto".
Outros dois operários, que pediram anonimato, contaram a O TEMPO que foram pressionados para terminar as obras e liberar a avenida Pedro I antes da Copa do Mundo. Eles afirmam que não houve cuidado com a segurança de funcionários, pedestres e motoristas. Desde o fim de maio, os trabalhadores declaram que as horas de trabalho deixaram de ser de 7h às 17h e passaram para 7h às 21h.
“Quando o supervisor passou a nova escala, disse que quem não desse conta não servia para o serviço, e seria mandado embora”, disse um deles. O outro trabalhador relata que o engenheiro sempre frisou a pressa para terminar o serviço. “Ele ficava o tempo todo falando que tinha que liberar antes do dia 10 (de junho)”, lembrou o operário, que chegou a trabalhar quase 20 horas em um dia.
Atualizado às 14h40