CIDADES

Poeira de cimento toma conta de Vespasiano

Moradores acusam empresa Soeicom de empestear o ar com resíduos de sua produção em níveis insuportáveis e pedem providências ao MP e à Feam

Por IGOR GUIMARÃES
Publicado em 02 de setembro de 2007 | 18:01
 
 
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Uma névoa fina tem insistido em compor a paisagem do município de Vespasiano. O visual, entretanto, nada tem a ver com algum fenômeno climático natural, mas decorre de partículas de poeira suspensas, oriundas do processo de produção de cimento na fábrica Soeicom. Instalada bem no centro da cidade, a 28 km de Belo Horizonte, a indústria é acusada pelos moradores de lançar resíduos na atmosfera em índices insuportáveis, inclusive durante as madrugadas e aos finais de semana. Há quem relate ter adquirido problemas de saúde e afirma que a empresa, embora uma das três maiores da cidade, esteja inibindo o desenvolvimento do comércio e o setor imobiliário por causa da sujeira.

A reportagem de O TEMPO esteve em Vespasiano e encontrou ruas cobertas por uma poeira acizentada, que se acumula no asfalto, rente às calçadas. A sujeira toma conta principalmente do centro comercial, onde o vai-e-vem de caminhões da Soeicom é freqüente na principal avenida da cidade, a Prefeito Sebastião Fernandes. Na Fot Lanches, o trabalho de limpeza de vitrines, mesas, cadeiras, computador e freezer é diário. "Os móveis ficam muito sujos. Todo dia temos que lavar a calçada. Não há como evitar o desperdício de água", diz a funcionária Joselice Rodrigues da Cruz. Nos demais bairros, a situação também é crítica. Morador do Jardim Itaú, o advogado Jarbas Antunes enfrenta uma rotina em que a casa e o carro ficam constantemente empoeirados. Entretanto, a preocupação maior é com os filhos pequenos, pois ele não sabe ao certo quais as conseqüências à saúde com a exposição constante às partículas de poeira. Para piorar a qualidade do ar, afirma, a Soeicom teria passado a utilizar resíduos industriais de outras empresas (restos de pneus, plásticos, óleos, tintas etc) como combustível para seu forno.

"As pessoas sentem um cheiro forte, mas sabemos que é por causa da queima desses produtos." A formação do núcleo urbano do município de Vespasiano teve início por volta do final do século XIX, quando a cidade de Belo Horizonte foi inaugurada. Mais de 70 anos depois a Soeicom se instalou no local, às margens do Ribeirão da Mata. "A Soeicom não pode alegar que chegou aqui antes da cidade. Não queremos que ela saia daqui, mas que assuma suas responsabilidades e mantenha uma atividade que respeite os moradores", afirma o advogado Antunes. "Moro aqui há 70 anos e agora estou tendo bronquite por causa do pó. A Soeicom está acabando com a cidade e com o povo", reclama o autônomo Wilson Batista. Antunes entrou com uma representação no Ministério Público há cerca de um mês, denunciando a empresa. Acionou também a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). "A cidade está em um vale e quase não tem vento. A poeira é jogada da chaminé para cima. Depois, ela desce e se espalha. Esse processo é feito várias vezes ao dia, inclusive de madrugada", diz o advogado.

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