Um anteprojeto com o cronograma da obra de revitalização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte deve ser entregue pelo governo de Minas ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no mês de agosto. Entretanto, na perspectiva mais otimista, as primeiras melhorias na via só ficariam prontas em 2019, segundo análise de especialistas ouvidos pela reportagem. Desde o acidente que deixou cinco mortos e três feridos no Anel, em janeiro de 2011, mais de 150 óbitos foram contabilizados no corredor.
“Dando tudo certo, e se a obra começar ainda neste ano, terá um tempo mínimo de três anos (para acabar). Só que é uma obra muito cara, mais do que a duplicação da BR–381, e, no atual cenário brasileiro, eu não acredito que ela vá caminhar”, afirmou o professor do engenharia de tráfego da Universidade Fumec Márcio Aguiar.
A revitalização foi estimada em R$ 1,5 bilhão. Além desse custo, outro problema seria o modelo de contratação pelo Regime Diferenciado de Contratação (RDC), modalidade de licitação mais ágil em que as obras são executadas junto com os projetos. “Nós temos exemplos de fracasso no RDC, que é o caso da BR–381, onde não houve interessados e empresas que venceram a concorrência agora não têm condições de executar a obra”, acrescentou Aguiar.
Opinião semelhante tem o presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG), Clémenceau Chiabi. “O modelo por RDC é de alto risco e pode acabar saindo muito mais caro e demorado no final”, salientou o engenheiro.
Radares. Enquanto a revitalização não sai, a instalação de radares logo após o acidente de 2011 foi um dos principais instrumentos de prevenção de batidas no trecho do bairro Betânia, na região Oeste, um dos mais perigosos da via. O tenente Geraldo Donizete, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), trabalhou no Anel por 14 anos e conta que, desde a implantação do sistema, não houve outro acidente com tantas vítimas.
“Só que, ao mesmo tempo, ainda há muito o que melhorar. A área de escape para caminhões, para quem perde o controle do veículo, por exemplo, é algo que eu vejo como necessário”, disse.
Não há previsão para a instalação da área de escape no Anel, segundo o Dnit. De acordo com o órgão, nos últimos cinco anos, a rodovia recebeu nova sinalização ao longo de seus 26,5 km.
Já na parte sob responsabilidade da concessionária Via 040 estão sendo executadas “obras de recuperação e conservação permanentes”. Dez radares foram instalados desde maio de 2015. Os equipamentos ainda aguardam autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para funcionar.
Radares
Correção. Procurada, a ANTT informou que encaminhou à Via 040 pedidos de correção no projeto dos novos radares no início desta semana e que espera um plano revisado ainda neste mês.
Motorista que matou na Raja vai a júri popular, decide STF
O Supremo Tribunal Federal (STF) negou pedido de habeas corpus e manteve o júri popular de Gustavo Henrique Bittencourt, 29. Ele é acusado de causar a morte do empresário Fernando Paganelli, 48, em acidente na avenida Raja Gabaglia, em 1º de fevereiro de 2008. A defesa pretendia mudar a acusação de homicídio doloso (quando há intenção de matar) para culposo (sem intenção). A medida o livraria do júri popular. Enquanto isso, o Tribunal do Júri da capital fez ontem o primeiro julgamento por crime de trânsito, de um caminhoneiro, mas uma série de casos, inclusive mais antigos e envolvendo motoristas embriagados e de classe alta, continua tramitando na Justiça.
Bittencourt foi acusado de homicídio por ter provocado acidente de trânsito com vítima fatal quando, “em estado de embriaguez”, conduzia seu veículo pela contramão da avenida Raja Gabaglia, com excesso de velocidade.
Após recurso do réu, o Tribunal de Justiça de Minas (TJMG) cassou a acusação de homicídio doloso feita pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Isso levou a promotoria a recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que manteve o crime doloso e o júri popular.
Já a decisão do Supremo concedida nesta semana, após novo recurso do réu, foi mais um indicativo do entendimento de crime doloso contra a vida, levando em conta a embriaguez ao volante e a condução do veículo na contramão. A data para o julgamento não foi definida.
Recorrente. Outro acidente com morte e que ainda não teve uma conclusão aconteceu na avenida Nossa Senhora do Carmo, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, no dia 15 de setembro de 2012. O motorista Michael Donizete Lourenço, então com 22 anos, dirigia em alta velocidade quando bateu uma Land Rover Discovery no Ford Focus do universitário Fábio Pimentel Fraiha, 20, que morreu na hora.
Desde então, a defesa do réu vem entrando com recursos na Justiça, e a situação está indefinida.(BM/JC)
Outras batidas
21.5.10. Três pessoas da mesma família morrem em acidente envolvendo seis veículos no Anel Rodoviário, na altura do bairro Betânia, Oeste de BH. O acidente foi causado por uma carreta carregada com minério de ferro que descia o trecho.
11.9.09. Cinco pessoas, entre elas uma criança de 2 anos, morrem e quatro se ferem em acidente com 14 veículos próximo ao Betânia. A tragédia foi provocada por um caminhão carregado
com detergente.
Sem previsão para construir Rodoanel
Se a obra de revitalização do Anel Rodoviário pode demorar anos, a construção do Rodoanel na região metropolitana de Belo Horizonte não tem sequer uma previsão de acontecer. Procurada, a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) informou que a intervenção continua em análise.
O órgão explicou que o alto custo do empreendimento licitado no fim de 2014, R$ 7,1 bilhões, é incompatível com a realidade financeira do Estado e “por isso, requer reestudo”. O Dnit não se manifestou sobre a obra. (JC)