Oito pessoas de uma mesma família e outras quatro, todas elas ciganas, foram presas pela Polícia Federal (PF), nesta sexta-feira (11), sob suspeita de fraude de benefícios previdenciários. A quadrilha tirava documentos com certidões de nascimento tardias e ideologicamente falsas e se inscrevia nos benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sendo que já foi confirmado um prejuízo de R$ 2 milhões aos cofres públicos.
O delegado Cristiano Campideli, da PF de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, foi responsável pela operação "Gipsy Bandit", que contou com 50 policiais federais para cumprir 12 mandados de prisão e 10 de busca e apreensão nos estados de Sergipe e Bahia. "O que desencadeou a investigação foi uma apreensão de um veículo com mais de cem documentos falsos, no Mato Grosso do Sul, ocorrida em 2012. No carro estavam duas pessoas que estão entre os presos na operação", lembra o policial.
A partir daí, descobriu-se que várias das pessoas dos documentos apreendidos eram beneficiários do INSS em Almenara, localizada no Jequitinhonha, mas que é área da delegacia da PF de Valadares. "Instauramos o inquérito em fevereiro de 2013 e descobrimos como eles aplicavam o golpe. Eles se aproveitavam de uma brecha da lei, que permite que uma certidão de nascimento tardia seja concedida com a presença de duas testemunhas", explica Campideli.
Os ciganos iam até cartórios com uma pessoa que supostamente não possuía registro, duas testemunhas e saíam de lá com o documento. A partir daí, o bando tirava todos os documentos necessários e inscreviam as pessoas inexistentes como beneficiários do INSS. "Nós constatamos que os funcionários do cartório e do INSS eram ludibriados por eles, sem ter qualquer participação", garantiu o delegado.
Entre os presos, um deles é considerado o cabeça da quadrilha. Além dele foram presos seus quatro irmãos, a esposa, o pai e a mãe. Ainda conforme o policial, somente a mãe do alvo principal da investigação, que tem mais de 70 anos, possuía 14 identidades diferentes que recebiam o benefício. "Não posso te precisar a idade dela no momento, pois são tantos os documentos e todos com idades diferentes", disse o policial.
Até o momento já foram comprovados 56 benefícios recebidos pelos ciganos, que causaram o prejuízo de R$ 2 milhões. Estes benefícios já estão sendo suspensos. Apesar disso, outros 24 identidades beneficiadas que seriam da quadrilha ainda são investigadas.
Nômades
A princípio, os ciganos atuavam na região do Jequitinhonha, porém, como são nômades, até o fim da investigação se deslocaram para a Bahia e também em Sergipe. "Isso dificultou muito a investigação, mas, por fim, nós conseguimos localizá-los", disse o delegado. Os ciganos teriam passado pelos estados do Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraná, Alagoas, Bahia e Sergipe.
Durante o cumprimento dos mandados os policiais perceberam que os ciganos levavam uma vida luxuosa. "Só para se ter uma ideia, foram apreendidas sete caminhonetes de luxo, todas anos 2013 e 2014. Só isso já demonstra que eles tinham grande recursos financeiros", lembra o delegado Campineli.
Dois dos presos estão em uma penitenciária em Salvador e os demais em Sergipe. Agora, a PF pretende ouvir todos os envolvidos em Valadares em um prazo de 30 dias.