Representantes de grupos quilombolas estão reunidos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para denunciar agressões sofridas por eles no início deste ano, nas cidades de Verdelândia e Varzelândia, no Norte do Estado.
Quinze pessoas, dentre elas feridos em um tiroteio em uma fazenda, onde 40 pessoas estavam acampadas, acusam o filho do dono da propriedade, João Dias, conhecido como Joãozinho, de participação nas tentativas de homicídio. “O que faz patrão? É para matar, patrãozinho”, teriam dito os capangas durante o tiroteio.
Segundo as vítimas, no último domingo (19), cerca de dez pessoas apareceram encapuzadas no acampamento em uma caminhonete. O grupo estava armado e atirou. Além disso, mandou que todos deitassem no chão. Os suspeitos chutaram e deram coronhadas.
Durante a audiência, as vítimas mostraram os cortes nas cabeças e nos rostos. Duas pessoas ficaram baleadas nos braços e estão em hospitais de Janaúba e Montes Claros, na mesma região.
De acordo com os quilombolas, eles invadiram o local e ficaram por lá entre 2010 e 2012, até que o dono das terras apresentou uma liminar e eles saíram pacificamente. Contudo, após um decreto do governo federal de que parte da propriedade pertence aos quilombolas, eles retornaram.
Também participam da audiência representantes do Ministério Público, da Comissão Pastoral da Terra, do governo federal e de entidades ligadas à proteção dos Direitos Humanos.
Dados
A Comunidade Quilombola Brejo dos Crioulos é a primeira em Minas a ter as terras demarcadas. Ao todo são 170 mil hectares e 20% deste total já foi indenizado e a posse já está com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Relembre os casos
Em Verdelândia, também no Norte do Estado, dois homens foram baleados e outras nove pessoas ficaram feridas durante um tiroteio em uma fazenda onde havia 40 pessoas acampadas. O filho do dono da propriedade é suspeito de atirar contra o grupo.
Equipes da Polícia Civil de Janaúba, Norte de Minas, e da Delegacia de Conflitos Agrários de Belo Horizonte seguiram para a fazenda em Verdelândia, onde aconteceram as tentativas de homicídio. Desde o início da manhã dessa segunda-feira (20) são feitas diligências no local. Ninguém foi preso até o momento.
Anteriormente, a polícia informou que as pessoas atingidas seriam da “Comunidade Quilombola do Brejo de Arapuim”. No entanto, nesta terça-feira (21), por meio de nota, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que "o ataque ocorrido na Fazenda Morro Preto, em Verdelândia não foi a membros da comunidade quilombola Brejo dos Crioulos, mas a membros das comunidades Boa-Vistinha e Limeira, que apesar de terem certificação da Fundação Palmares não tiveram os trabalhos de regularização iniciados pelo Incra/MG. A Autarquia informa ainda que a área da fazenda ocupada não coincide com a que vai ser reivindicada judicialmente pela comunidade Brejo dos Crioulos".
Em Varzelândia, no Norte de Minas, o prefeito Felisberto Rodrigues Neto (PSB) é suspeito de tentar matar o líder da Comunidade Quilombola Brejo dos Crioulos, José Carlos de Oliveira Neto, conhecido como “Véio”. Segundo Willian Santos, o crime aconteceu depois que o grupo conseguiu, junto à Presidência da República, o Decreto de Delimitação da Área Quilombola, tornando-se proprietário de uma região que inclui a fazenda do político.
Atualizada às 15h01.