Combater os acidentes entre motociclistas é um dos principais desafios da capital mineira para cumprir a meta de redução de mortes no trânsito até 2020, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU). No primeiro semestre do ano passado, acidentes envolvendo motos resultaram em 33 óbitos, 41% dos 80 registrados no período, segundo dados da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans).
“É o único segmento em que nós não conseguimos reduzir. Nós temos tido redução consistente ano a ano no número de pedestres atropelados e também nos ocupantes de veículos, mas o dos motociclistas só cresce, junto com a frota”, disse Jussara Bellavinha, coordenadora de Segurança de Trânsito da BHTrans. Em 2011, eram 178.480 motocicletas na capital. Até abril deste ano, a quantidade passou para 215.896, um aumento de 20,9%, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
O assunto foi discutido nessa segunda-feira (22) no Fórum de Saúde e Violência no Trânsito, realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A instituição lançou o grupo de pesquisas Saúde e Violência no Trânsito, que visa discutir o tema e fundamentar a criação de políticas públicas para a redução dos índices de acidentes e de vítimas. “A ideia central é produzir conhecimento que possa embasar e contribuir para a produção de políticas públicas de mais qualidade”, explicou Elza Machado, professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social.
Análise. Segundo Jussara, os acidentes têm sempre mais de uma causa. “Analisando os boletins de ocorrência, vemos um número muito grande, nos acidentes de moto, de pessoas alcoolizadas e não habilitadas. Nós só vamos conseguir redução drástica na violência do trânsito com mudança de comportamento”, disse.
O professor do Departamento de Engenharia do Transporte do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) e subsecretário de Regulação de Transportes do Estado, Renato Guimarães Ribeiro, acredita que o aumento da frota de motos tem relação com o preço e a rapidez do veículo, e o crescimento dos acidentes, com a imprudência. “Aumentam (os acidentes), porque (os motociclistas) têm andado mais rápido, em zigue-zague, desrespeitando as regras do trânsito. Nós ainda precisamos entender como conversar com os motociclistas para que eles possam reduzir os atos de imprudência”, pontuou.
Para o professor de engenharia de transportes e trânsito da Universidade Fumec Márcio Aguiar, uma saída para reduzir o número de mortes por moto em longo prazo envolve melhoria do transporte público. “O número de motos cresceu muito em função da deficiência do poder público em ofertar um transporte coletivo de qualidade. A moto é um veículo barato e de fácil acesso”, ponderou. (Com Bernardo Miranda)
Saúde
Maioria no HPS estava de moto
Dados do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) reforçam a preocupação: entre outubro de 2011 e setembro de 2016, dos 67.122 pacientes que deram entrada como vítimas de acidentes de trânsito, 34.238 usavam motos, o que representa 51%.
Em todo o Estado, foram gastos R$ 4,5 milhões com internações por acidentes com moto, de janeiro a março deste ano.
“Temos um plano de trabalho com programas para cada segmento, mas, infelizmente, andamos a passos bem lentos por falta de dinheiro”, declarou Jussara Bellavinha, da BHTrans. (RM)
Percepção
Brasil está longe de cumprir plano, analisa especialista
O Brasil não deve conseguir cumprir a meta estabelecida pela ONU de reduzir pela metade os óbitos provocados por acidentes de trânsito até 2020, segundo especialistas que participaram nessa segunda-feira (22) do fórum. Em 2011, foram 43.256 óbitos, o que significa que, em 2020, esse número deveria cair para 21.628. Em 2014, foram 43.075.
“Infelizmente, o Brasil não vai atingir a meta. Estamos muito longe e precisamos intensificar todos os esforços, ter mais envolvimento do poder público com financiamento, recurso e prioridade em política pública. É inadmissível achar normal morrer no trânsito”, disse a médica sanitarista Marta Maria Alves da Silva, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A BHTrans informou que realiza trabalho educativo com motociclistas envolvendo distribuição de baralho cujas cartas contêm mensagens visando à diminuição de acidentes e o aumento de segurança. Pontuou também que instalou motoboxes em alguns pontos da cidade – quando o semáforo fecha, os motociclistas esperam a abertura à frente dos carros. (RM)
Estatísticas
Ranking. Em 2011, quando a meta foi estabelecida, o Brasil ocupava a quinta posição entre os países com mais mortes no trânsito, atrás somente de Índia, China, EUA e Rússia.