A conquista do título de Patrimônio Cultural da Humanidade pode ajudar na preservação da Pampulha, trazer um número maior de turistas para Belo Horizonte e evitar que erros, como a expansão do Iate Tênis Clube, ocorram, segundo especialistas em patrimônio ouvidos pela reportagem. Hoje, o Brasil conta com 12 conjuntos reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Desse total, três estão em Minas Gerais, e o Complexo Arquitetônico da Pampulha pode ser o quarto do Estado.
Mônica Eustáquio Fonseca, professora de história da arte da PUC Minas, destaca que de imediato a concessão do título vai garantir visibilidade maior para a cidade, com interesse de turistas brasileiros e estrangeiros pelo local. Porém, ela destaca que o efeito mais importante será a mudança de percepção da sociedade e das autoridades com a obra de Niemeyer, de relevância mundial.
“Vai mudar não só nossa visão sobre a obra, mas também a concepção de nossa sociedade sobre a importância da preservação. O título não é concedido aleatoriamente e exige uma ação de manutenção permanente. É uma garantia de que o poder público vai cuidar daquele monumento. E a nossa sociedade tem falhado muito na preservação de nossos bens culturais”, destacou.
Mônica ainda ponderou que o centro histórico de Ouro Preto poderia ter um nível de preservação muito menor se a cidade não tivesse conseguido o título em 1980. A antiga capital de Minas foi o primeiro conjunto do Brasil a receber o selo de Patrimônio Cultural da Humanidade.
Retorno. Guilherme Araújo, professor de arquitetura do Centro Universitário UNA, destaca que em todos os casos de reconhecimento da Unesco houve um crescimento no número de turistas.
Iate. Os dois professores defendem que foi um grande equívoco a construção do anexo do Iate Tênis Clube. “O que acontece é que essa construção no Iate, que na verdade não é um puxadinho, e sim um imenso edifício, impede a visibilidade total do conjunto e descaracteriza o projeto original”, argumentou Araújo.
Mônica Fonseca explicou que o título pode evitar que outras obras da capital passem pelo mesmo processo de expansão do Iate. “Aquela obra desastrosa (no Iate) ocorreu porque não havia uma percepção da necessidade de preservar os bens culturais da cidade. Com esse título, começamos a rever essa postura”, disse.
Cronograma
Prazo. Técnicos da Unesco consideram a possibilidade de conceder o título mesmo sem o início das obras de demolição do anexo do Iate. Para isso, um “cronograma rigoroso” deverá ser aprovado.
Saiba mais
Acesso ao público. Uma das exigências do Conselho Internacional para a Conservação de Monumentos e Sítios (Icomos), da Unesco, para a concessão do título de Patrimônio Cultural da Humanidade é a abertura de parte do Iate ao público.
Reconstrução. No documento, os técnicos exigem, além da demolição do anexo, a recuperação dos jardins de Burle Marx. Para os analistas, o acesso a esse espaço pelo público é crucial para a concessão do título.