Um grupo de taxistas de Belo Horizonte gravou um vídeo, onde eles cantam e tocam uma música de pagode conhecida, mas com uma letra homofóbica, agredindo usuários do Uber, considerado por eles clandestino. Assista ao vídeo acima.
"Quem pega Uber é veado, quem pega Uber é veado, quem pega Uber é veado, e pode ter certeza que está dando o rabo", diz a letra de música.
A gravação foi feita em frente a uma casa de shows, em Nova Lima, na região metropolitana da capital. Com os táxis ao fundo, eles deixam claro que estão parados (sem corridas), porque as pessoas que deixam o estabelecimento estão voltando para casa com motoristas do Uber.
O vídeo teria sido publicado no Facebook, na noite dessa quarta-feira (15), sendo excluído da rede, após o grande compartilhamento e críticas. Ele foi enviado por Whatsapp para a redação de O TEMPO.
O presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir) informou que teve o conhecimento do vídeo pela reportagem, mas que, como representante da classe, repudia qualquer tipo de ação violenta.
"Conforme relatado por O TEMPO, o sindicato vê com muita cautela e com uma tristeza essa história, que é preocupante. Somos contrários à violência e descriminação. Isso é um fato isolado. Diante de tal fato, o sindicato que representa a categoria afirma que sempre vai pautar as revindicações e os direitos da classe, dentro da democracia e respeito ao próximo. Diante do vídeo, peço desculpas à sociedade", afirmou Ricardo Luiz Faedda.
Além disso, Faedda explica que com a concorrência "ilegal e clandestina" e com a crise econômica, que assola o país, a categoria tem sofrido com a diminuição de chamados.
Em resposta à situação, o Uber afirmou, por meio de nota, que "se orgulha de oferecer, com um toque de um botão, transporte acessível e confiável para todos, independente de raça, gênero, religião ou orientação sexual. Em pleno séc. XXI, consideramos inapropriado e inadmissível qualquer tipo de preconceito".
Não foram registradas denúncias contra o vídeo em questão.
Repúdio
"Nós entramos em contato com a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), que demonstrou ser contra qualquer tipo de preconceito. Nós repudiamos esse ato, que é contra tudo que temos lutado. Nos posicionamos contra os atentados a diversidade e também aos usuários o Uber", explicou o Sérgio Riani, que é coordenador do Centro de Referência pelos Direitos Humanos e Cidadania LGBT.
O centro informou ainda que, durante contato com a BHTrans, descobriu que pelo fato do vídeo não mostrar claramente que os carros são da frota de táxis de BH, mesmo aparentando ser, não foi possível identificar os veículos e os taxistas que participaram do ato.
"Nós pedimos para que todos que tiveram acesso a esse vídeo entre em contato com o número 165 ou vá presencialmente a BHTrans para que esses motoristas possam responder junto a supervisão de gestão de processo de procedimento", encerrou Riani.
Entenda a polêmica sobre o Uber em Belo Horizonte
O Plenário da Câmara de Belo Horizonte aprovou em 2º turno, em dezembro de 2015, o Projeto de Lei que regulamenta a operação de aplicativos de transporte individual de passageiros, como o Uber. O texto, dentre outras regras, determina que o funcionamento dos aplicativos fica condicionado a credenciamento junto à Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). A proposta foi sancionada pelo prefeito Marcio Lacerda.
De autoria do Executivo, o PL 1797/15 não impede o funcionamento de aplicativos como o Uber, mas determina que eles devem se cadastrar junto à BHTrans para continuar em operação. Além disso, as empresas credenciadas para operar por meio dos aplicativos ficam obrigadas a cadastrar exclusivamente motoristas e veículos licenciados pela BHTrans, além de disponibilizar, na capital, somente corridas iniciadas no Município ou em cidade conveniada. É sua obrigação, ainda, assegurar ao usuário a opção de pagamento com cartão de crédito ou débito, bem como viabilizar a funcionalidade de avaliação do condutor e da prestação de serviço. O descumprimento de normas previstas acarretaria, ainda, multa de R$ 30 mil ao administrador do serviço, dobrável em caso de reincidência.
Contudo, desde a decisão, os motoristas do Uber veem conseguindo liminares na Justiça, que os permite continuar oferecendo o serviço em Belo Horizonte. "Reforçamos que este PL é inconstitucional, já que vai contra uma modalidade de transporte prevista na Política Nacional de Mobilidade Urbana - PNMU (Lei Federal 12.587/2012)", afirmou o Uber à época.
Atualizada às 18h12.