Transporte

Uso da bike cresce no dia a dia

Viagens em bicicletas compartilhadas durante a semana já são 83% do total em Belo Horizonte

Por Bernardo Miranda
Publicado em 20 de setembro de 2016 | 03:00
 
 
 
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Dois anos após a implantação do sistema de bicicletas compartilhadas Bike BH na capital, o perfil dos usuários já aponta para um uso cada vez maior das magrelas como meio de transporte no dia a dia, principalmente nas estações localizadas na região Centro-Sul. O TEMPO teve acesso, com exclusividade, a um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) que mostra o crescimento de viagens durante a semana, com percursos entre duas estações e com horários de pico no início da manhã e no fim da tarde. Segundo especialistas, os dados revelam que a população tem recorrido à bicicleta como alternativa ao transporte público convencional.

O levantamento analisou os dados de 28 dias, de abril a maio deste ano, nas 40 estações do Bike BH que existem na cidade. Na região Centro-Sul, onde estão 34 terminais, o percentual das viagens durante os dias da semana subiu de 76%, em 2015, para 83%, neste ano. As viagens em que os usuários retiravam e entregavam a bicicleta na mesma estação caíram de 29% para 20% no mesmo período. No sentido contrário, os deslocamentos que apontam uma distância percorrida de até 2 km cresceram, passando de 52% do total para 65%.

Demanda. Segundo o pesquisador do Cebrap Victor Calil o estudo também mostra que, na região Centro-Sul, já existe um movimento de pico no início da manhã e no fim da tarde que reflete o que ocorre nos meios de locomoção tradicionais. Ele explica que essa característica de Belo Horizonte também ocorre em grandes cidades do mundo que adotam a bicicleta como meio de transporte. Porém, aqui o volume de usuários é muito menor. Calil destaca que fazer esse volume crescer depende mais de uma mudança de comportamento do motorista belo-horizontino do que de uma expansão do sistema de bicicletas atual.

“O grande desafio está em melhorar a trafegabilidade para que o uso da bicicleta seja atrativo. Não basta criar mais estações. Fazer essa melhoria passa por tornar o tráfego menos agressivo e melhorar as conexões das ciclovias e a criação de ciclorrotas”, detalhou. “Eu já pedalei em várias cidades do Brasil, e o motorista de Belo Horizonte é o mais agressivo com o ciclista. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, os motoristas já estão começando a ter um respeito maior”, disse.

O conselheiro da Associação Transporte Ativo e consultor no tema bicicletas públicas Rodrigo Vitorio explica que o sistema também tem sua fatia de responsabilidade para aumentar o volume de usuários. Ele destaca que é preciso ter uma confiabilidade de que se pode contar com aquela bicicleta.

“É preciso que tenha cada vez mais estações próximas e concentradas numa região. Também é fundamental que sempre tenha bicicletas. É preciso frisar que se trata de um transporte público. Chegar a uma estação e não ter bicicleta é o mesmo que chegar ao ponto de ônibus e ficar sabendo que ele não vai passar”, destacou.

Já as estações da Pampulha têm características completamente diferentes das da região Centro-Sul. Lá os ciclistas buscam a bicicleta por lazer. Na maioria dos deslocamentos nessa parte da cidade, as bicicletas são devolvidas no mesmo local em que são retiradas.

Sem respostas

BHTrans. Questionada sobre o sistema de bicicletas compartilhadas, a Empresa de Transportes e Trânsito (BHTrans) informou que a única fonte que poderia falar sobre o assunto estava viajando. 

Incentivo público é necessário

Para o conselheiro da Associação Transporte Ativo e consultor no tema bicicletas públicas, Rodrigo Vitorio, as prefeituras têm que rever o modelo adotado para a implantação de bicicletas compartilhadas.

Ele critica que, hoje, o poder público enxerga as iniciativas mais como licitações para uso do espaço público como publicidade do que como política de transporte.

“Para as prefeituras, as bicicletas são outdoors ambulantes que rendem dinheiro com cobrança de outorga. Mas essa é uma política de transporte público que deve ter incentivos maiores”, afirmou.

Perfil

Ciclistas buscam novos trajetos

A mudança do perfil de uso das bicicletas compartilháveis em Belo Horizonte também é percebida pelo crescimento de rotas que, até o ano passado, tinham um movimento quase irrelevante. Em 2015, a rota Praça da Assembleia/Sesc Palladium era apenas o 97º trajeto mais realizado. Em 2016, já é o sexto, atrás somente das viagens feitas nas estações da Pampulha, que têm um movimento maior, mas com uso quase exclusivo para lazer.

Outro caminho que apresentou um aumento significativo foi entre as estações Bernardo Monteiro e Santa Efigênia, que passou do 36º roteiro mais realizado para o sétimo. Nesse caso, há uma relação direta com o metrô. A estação do Bike BH Santa Efigênia fica próxima à passarela que dá acesso ao terminal do metrô de mesmo nome.

“Há uma característica muito forte em BH da intermodalidade do sistema com as estações de metrô. O passageiro do metrô amplia sua área de acesso ao transporte público quando utiliza o sistema de bicicletas compartilhadas”, analisa o pesquisador do Cebrap Victor Calil.

A superintendente de Relações Institucionais e Governamentais do Itaú, Luciana Nicola, explica que, neste momento, os dados de Belo Horizonte estão sendo analisados para definir a estratégia na cidade. “Estamos conversando com a BHTrans, analisando a situação para definir possíveis novas ações”, afirmou.

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Intermodal

Bicicleta vence desafio em BH

Em meio ao trânsito caótico, típico do horário de pico, a bicicleta foi o transporte mais rápido do Desafio Intermodal deste ano, realizado na última quinta-feira. O trecho percorrido foi entre a praça da Liberdade, na região Centro-Sul, e o campus da PUC Minas no Coração Eucarístico, na região Noroeste da capital.

Foram apenas 17 minutos e 22 segundos gastos pelo ciclista Marco Aurélio Assunção, 26, em cerca de 9 km. A bike ficou na frente até mesmo da moto, que fez o percurso em 23 minutos e 28 segundos. “Eu achei que a moto iria chegar primeiro, pois um motor ajuda. Andar fora desse trânsito louco é uma sensação muito boa, ainda mais para mim, que, como taxista, preciso ficar preso no carro”, contou Assunção.

A equipe de O TEMPO participou do desafio de carro, chegando entre as últimas posições: foram 57 minutos e 15 segundos. O automóvel ficou na frente apenas de quem foi a pé. O desafio foi organizado pela Associação de Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo) e pelo Bike Anjo BH.

Procurada, a BHTrans informou que, para melhorar o transporte coletivo até a região onde foi executado o desafio, possui dois projetos. Um deles é a construção do BRT da Amazonas, e o outro, é a criação de faixas exclusivas para ônibus no trecho. Ambos, no entanto, não possuem prazo de execução. (Jhonny Cazetta)

Saiba mais

Pelo Mundo. O uso de bicicletas compartilhadas começou a se espalhar pelo mundo a partir de 2007, após o bom resultado alcançado em Paris. Hoje, 700 cidades têm sistemas, em 50 países.

Buenos Aires. Na capital argentina, existem 140 km de ciclovias e 43 estações de bicicletas compartilhadas. O sistema foi criado em 2010.

Cidade do México. Já na capital mexicana, são 100 km de ciclovias e um total de 444 estações do sistema de compartilhamento.

Londres. Na cidade da Inglaterra, são 700 estações que atendem cerca de 170 mil usuários desde 2010.

Paris. Na Cidade Luz, são impressionantes 1.800 estações de bicicletas compartilhadas, que começaram a funcionar em 2007. A cidade conta com mais de 700 km de ciclovias.

Nova York. A cidade norte-americana se destaca mais pelo número de ciclovias do que de estações. São quase 965 km de vias exclusivas para as bikes. Nova York tem 332 estações no sistema, que começou a funcionar em 2013.

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