Um viaduto em construção da avenida Pedro I desabou, na altura do bairro São João Batista, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, na tarde desta quinta-feira (3). Pelo menos duas pessoas morreram e outras 22 ficaram feridas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. A queda teria acontecido por volta das 15h10.
O viaduto fica próximo ao parque Lagoa do Nado e um Fiat Uno, um outro carro de passeio, um ônibus da linha circular 70 e pelo menos dois caminhões teriam ficado presos sob a estrutura. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) está no local e constatou duas vítimas fatais, entre elas, a motorista do ônibus, Hanna Cristina dos Santos, de 24 anos. Ela trabalhava com isso há um ano e o veículo que dirigia era do pai dela. Hanna deixa uma filha de 5 anos, que estava no ônibus no momento do acidente e também ficou ferida, assim como a cobradora da linha. Entre os feridos está também um funcionário da prefeitura que trabalhava em cima do viaduto no momento da queda.
Uma das passageiras do ônibus que ficou ferida, Penelope de Fátima Ferreira, 29, e já recebeu alta do Hospital Risoleta Tolentino Neves e disse ter nascido novamente. "Eu estava sentada na penúltima cadeira do ônibus, foi isso que me salvou. Na hora foi um barulho muito alto e tudo ficou escuro, a gente não entendeu direito o que havia ocorrido", contou a vítima.
O hospital está com um esquema especial de atendimento para dias de grandes eventos ou grandes catástrofes. Enfermeiros estão na porta da unidade para fazer um atendimento mais rápido aos feridos.
Uma equipe da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) desloca para o local em apoio aos bombeiros. O vereador Iran Barbosa (PMDB) passava pelo local e divulgou fotos do acidente em sua página no Twitter.
"A estrutura de metal que dá suporte ao viaduto cedeu. Só ouvi um estalo e em 5 segundos tudo desabou. Caiu sobre um ônibus, um carro e um caminhão. O viaduto partiu ao meio", relatou o vereador. O parlamentar ainda afirmou que, ao cair, o viaduto levou as vigas de sustentação metálica do viaduto ao lado. "Acabei de ser afastado do local. Os bombeiros temem o desabamento do segundo viaduto", disse.
A prefeitura de Belo Horizonte informou que no momento não irá se posicionar sobre o acidente e que está empenhada no local.
Em entrevista coletiva, o tenente coronel Edgard Estevo da Silva informou que foram socorridas 13 pessoas do ônibus que foi atingido pela viaduto, mas nenhuma em estado grave, além da motorista do coletivo, que morreu com a queda. Ele também disse que equipes do Corpo de Bombeiros arrastaram o ônibus e estão desencarcerando o corpo da vítima fatal das ferragens para fazer a remoção do corpo.
Um veículo de passeio também ficou totalmente esmagado pelo viaduto e os bombeiros ainda não tiveram acesso a possíveis vítimas. “Estamos trazendo uma câmera especial para visualizar o carro”, disse um bombeiro que estava no local.
No local, trabalham equipes integradas da Polícia Militar, bombeiros, Defesa Civil de Belo Horizonte, Samu e BHTrans.
O viaduto deverá ser cortado em blocos para a retirada de estruturas, para que as equipes possam ter acesso completo aos veículos. A Defesa Civil já vistoriou o conjunto habitacional e as casas no entorno do local do acidente com o objetivo de garantir que não haja nenhum risco. Quem mora na região pode procurar os bombeiros ou a Defesa Civil para ir às respectivas casas verificar os danos.
O encarregado da obra no viaduto informou aos bombeiros que nenhum operário que trabalhava no momento do acidente está desaparecido ou ferido. No entanto, um trabalhador que estava no viaduto no momento da queda contou à reportagem que está muito abalado e que está pensando até em parar de trabalhar. Ele contou que sempre trabalhou com obras e nunca viu nada parecido, e pensa em se aposentar porque não quer mais ver isso. Ele teve ferimentos na mão.
Ainda segundo o tenente coronel Edgard Estevo Silva, os dois caminhões atingidos pela estrutura estavam vazios.
A área permanece isolada e os bombeiros orientam a população a não irem para a região. Não há previsão de tempo para a liberação do local e o exército está a caminho.
O Corpo de Bombeiros aguarda pela chegada de dois guindastes que estão vindo de Ibirité e tem capacidade para carregar 600 toneladas cada um. O objetivo é utilizá-los para levantar o viaduto e conseguir retirar o veículo que está debaixo dele, no qual há pelo menos uma vítima.
Além da técnica de repartir o viaduto em blocos para a sua retirada - o que deve demorar dois dias para acontecer -, há ainda a possibilidade de usar a técnica de implosão para retirada da estrutura.
Veja a lista de feridos internados no Risoleta Neves:
Maria Gomes da Silva, 65 anos
Gerson Sandré Lopes, 42 anos
Joseilton Ribeiro, 46 anos
Penelope de Fátima Ferreira, 29 anos
Débora Nunes Regada trocadora, 31 anos
Érica Alves Moreira, 34 anos
Rosilene Fernandes Costa, 50 anos
Ana Paula Evangelista, 19 anos
Vanderlei Martins de Oliveira, 46 anos
Maria Célia da Silva, 55 anos
Veja o momento da queda:
Histórico
Já é a segunda vez que um viaduto construído para o Move apresenta problemas. Em fevereiro deste ano, a avenida chegou a ser interditada após a suspeita de que um outro viaduto da região correria risco de cair. O viaduto interditado na época ligaria os bairros Itapoã e Santa Branca e ficava próximo a rua Montese. Já o viaduto que desabou nesta quinta-feira (3) fica próximo a avenida General Olimpio Mourão, próximo ao Parque Lagoa do Nado.
No dia 6 de fevereiro, trabalhadores do local perceberam que a estrutura cedeu aproximadamente 30 centímetros. A Sudecap informou que durante a preparação de concretagem do viaduto percebeu-se um pequeno deslocamento lateral na estrutura no sentido bairro.
Com isso, os serviços foram suspensos e as vias que circundam o viaduto foram interditadas, sendo que no dia 10 de fevereiro a situação já havia se normalizado. A estrutura foi travada para não ocorrer nenhum deslocamento e está sendo monitorada constantemente pela equipe de plantão. O viaduto neste momento está estável.
A empresa
A Construtora Cowan foi criada em 1958, em Montes Claros, no Norte de Minas. Segundo site da empresa, ela já participou da construção de rodovias, ferrovias, obras de saneamento, construção de barragens, usinas hidrelétricas e até aeroportos.
Dentre obras de destaque, além do BRT/Move da avenida Pedro I e Antônio Carlos, também estão a da Linha Verde (que liga o centro de Belo Horizonte até o Aeroporto de Confins), duplicações da BR-040 (feitas pelo Dnit antes do leilão), e Gasoduto do Vale do Aço. Além disso, ela também está realizando obras de ampliação do Aeroporto de Confins (pistas de pouso e decolagem) e do metrô do Rio de Janeiro.
A empresa se pronunciou por meio de nota: "Com relação ao desabamento do viaduto sobre a Av. Pedro I, a Cowan lamenta profundamente o ocorrido e não está medindo esforços para oferecer o apoio necessário às vítimas e aos familiares. A empresa esclarece que:
- já foram direcionadas equipes ao local para a remoção da estrutura, inclusive providenciando iluminação e demais suportes necessários à realização dos trabalhos, que devem se estender pelos próximos dias;
- uma equipe técnica já está no local para iniciar as investigações e definir as causas do acidente;
- já está sendo providenciado o escoramento do segundo viaduto."
Transeuntes acharam que a motorista estava viva
Em um vídeo postado em redes sociais, os primeiros momentos após a tragédia mostram o total desespero das pessoas que presenciaram as cenas. Em pânico e com as mãos sobre a barriga, uma mulher grita: "Eu não posso ter minha filha aqui".
O homem que filma vai até o ônibus e vê a motorista morta (editamos o vídeo para não expor as cenas fortes). Ele acha que ela ainda está viva. Depois, outras pessoas entram no ônibus: "Ô, menina, fica fria", "Deus, ajuda essa menina".
Veja o vídeo:
Atualizada às 22h21.