Já superlotado e ainda recebendo presos, o complexo prisional de Bicas vem funcionando em condições degradantes. Os presos enfrentam revezamento para dormir, epidemia de infecções de pele e suspeita de violência sexual. Como as visitas íntimas na unidade foram suspensas por falta de acomodações, os encontros entre presos e suas mulheres acontecem no pátio, em cabanas improvisadas. A falta de estrutura, aliada à superlotação da unidade, é uma bomba-relógio esperando para explodir.
Os problemas foram constatados em vistoria não agendada a Bicas I, realizada pelo Conselho Penitenciário de Minas (Conpen) no último dia 22. O relatório da visita foi discutido ontem entre os membros do conselho. Em votação, eles decidiram acionar o Ministério Público e o Estado.
“Em uma situação como essa, sem estrutura e sem visita íntima, temos um aumento significativo dos casos de violência”, ressaltou o presidente do Conpen, o advogado criminalista Bruno César Gonçalves da Silva.
Precariedade. Conforme o relatório, cômodos construídos para oito pessoas abrigam até 23 homens. Cada um conta com oito beliches, que, acrescidos os colchões no chão, acomodam precariamente até 17 pessoas deitadas. Para dormir, é necessário fazer um revezamento, sempre em condições de higiene precárias.
Ao dar entrada na unidade, cada detento recebe dois cobertores, que são lavados uma vez ao mês. Os presos se esparramam em colchões pelo chão, que ficam úmidos e estão, em grande parte, em trapos. As toalhas de banho só podem ser lavadas e penduradas na própria cela, se tornando farrapos mofados em alguns dias. O resultado é uma epidemia de infecções e problemas de pele.
Outro problema é a falta de espaço para visitas íntimas na unidade. Com isso, os encontros estariam sendo divididos em dois dias. Nas sextas-feiras, seriam os filhos pequenos. As mulheres teriam o sábado. As visitas íntimas estão acontecendo no próprio pátio, em “cabaninhas” improvisadas pelos próprios detentos, com cobertores e lençóis.
“Temos que pensar que essas pessoas terão que voltar para o convívio da sociedade. E o que eles passam no encarceramento reflete diretamente no futuro desses presos”, alerta Bruno Silva.