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#Mineirão50anos

A verdade sobre o Mineirão

Assim, é somente pelo compromisso ético com os fatos que tenho que testemunhar que o primeiro jogo no Mineirão aconteceu em 1966

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PUBLICADO EM 25/08/15 - 16h02

A historiografia oficial garante que o Mineirão foi inaugurado na tarde do dia 5 de setembro de 1965 com o jogo Seleção Mineira 1 x 0 River Plate, gol de Buglê, meio-campista do Atlético. Certo? Não, errado. Mentira. Na realidade o Mineirão foi inaugurado na noite de 30 de novembro de 1966 com o jogo Cruzeiro 6 x 2 Santos. Daqui a pouco eu explico. Antes quero pedir ao leitor que tenha presente a formulação do filósofo alemão Karl Heinrich Marx de que as verdades científicas parecem absurdas à primeira vista. E o que vou explicar adiante é uma irrefutável verdade científica.

Mas antes quero deixar absolutamente claro que sou americano, um americano da velha guarda, desde a gloriosa conquista do título de 1957, com o fabuloso esquadrão de Jardel, Fantoni e Gaya; Toledo, Gilson e Moacir; Ernane, Miltinho, Capeta, Wilson Santos e Goiano. O melhor time mineiro da era pré- Mineirão. E como americano da velha guarda, quero mais é que o Atlético e o Cruzeiro sejam rebaixados de preferência para a quinta divisão – ou que acabem de vez. Certo? Certo.

Assim, é somente pelo compromisso ético com os fatos que tenho que testemunhar que o primeiro jogo no Mineirão aconteceu naquela inesquecível, quente e úmida noite de novembro de 1966 com o Cruzeiro 6 x 2 Santos. É, eu estava lá. Meninos, eu vi – diria o poeta. Vi um time a um só tempo celestial e diabólico. Vi um ser chamado Dirceu Lopes bailando em todos os lugares do campo – todos – ao mesmo tempo, qual um fantasma endiabrado assombrando o time de Pelé, isso mesmo, o time de Pelé, Carlos Alberto Torres, Lima, Pepe e outros do mesmo grosso calibre. Vi um anjo cabeçudo chamado Tostão organizando todo aquele balé cruzeirense enlouquecido na fatal direção das redes do santista Gilmar: um, dois, três, quatro, cinco, seis. E vi também um luciferiano Procópio ordenando a Pelé: “Sai prá lá, seu rei de meia-tigela. Aqui mando eu.” E Pelé saiu, obediente.

Chegamos cedo no fusca azul de meu irmão mais velho, Rosemiro, que torcia pelo Democrata de Sete Lagoas – por quê, só Deus sabe. Eu e meu irmão do meio, Agildo (atleticano fanático), completávamos a caravana secadora que daria braços e pernas para ver o Santos sapecar uma goleada de uns 10 x 0 naquele timinho metido a besta do Cruzeiro. Doce ilusão. O que vimos, e que também viram os outros 77.322 pagantes presentes ao festival, foi uma das maiores exibições de que puderam e podem ser capazes os melhores times de futebol que o planeta já conheceu, do Real Madrid de Di Stefano e Puskas à seleção brasileira de Pelé e Garrincha e ao Barcelona de Messi e Iniesta. Aos poucos, fomos sendo tomados pela magia azul. Sim, quando nos demos conta, estávamos felizes com o Cruzeiro (tenho que falar a verdade...), vibrando com o Cruzeiro, torcendo pelo Cruzeiro.

Mas, mais que tudo isso – o que somente cheguei a constatar tempos depois –, o que de fato, lá no fundo, nos empolgava era a convicção ali sendo adquirida de que o futebol mineiro estava arrombando a última porta de acesso a um lugar que já detinha de um direito não reconhecido há tempos e tempos. E que agora conquistara de fato. Um lugar entre os fortes e melhores. Naquela noite o Mineirão foi inaugurado. Naquela noite o futebol mineiro bradou: Eu estou aqui! Meninos, eu vi.
 

*Leovegildo P. Leal é jornalista, professor e americano.

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