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SENTINDO NA PELE

Estádio de Copa que nada! Estádio da cozinha mineira do tropeirão!

Repórter do Super FC faz o trabalho de ajudante de cozinha nos bares do Mineirão; serviço é exaustivo, mas rodeado de muita descontração

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PUBLICADO EM 04/09/15 - 20h57

Na primeira experiência, vesti o avental, a touca e o boné para vivenciar o trabalho de auxiliar de cozinha, profissional responsável pelo prato que virou sinônimo da culinária mineira – o tropeirão – e outras funções que fazem cada um dos 59 bares do estádio operar.



Não é mole. Enquanto você trabalha, mais de 50 mil se divertem. Ou sofrem, ou festejam, como queiram. A labuta começa bem cedo, quase doze horas antes de a bola rolar. O preparo dos caldeirões de arroz, feijão, farofa e molho, o corte das carnes, o rasgo das couves têm que ser preparados com antecedência, não mais em dias anteriores, como no passado, mas no dia da partida, como prevê as normas modernas de conservação.

Meus afazeres não começaram assim, tão cedo. Peguei serviço às 17h, cinco horas antes de Atlético e Sport, às 22h. É nesta hora que chegam os auxiliares para passar o bife, separar as bebidas na geladeira, a organizar os espaços, montar as marmitas.

Fiz de tudo um pouco, me senti um participante do Masterchef. Descobri o ponto certo do pernil e ajudei a levar as guarnições do ponto de produção para o espaço de venda. Sorte minha que quase tudo é transportado por carrinhos. Bastava empurrar. Ainda não tinha torcedor no meu caminho.

FOTO: Moisés Silva
Mineirão sentindo na pele
Realizada em equipe, a montagem do tropeirão é em ritmo industrial

Hora de adiantar os pratos. Coube a mim, finalizar a iguaria. A couve sobre o arroz branco, os três torresmos do lado do tropeiro. Tudo montado em pé, sem moleza, em ritmo industrial. Agilidade e capricho. Essa era a ordem. Na hora de tampar, tinha todo um truque para vedar o vasilhame. Parece simples, mas não é bem assim.

Duas horas e meia, atividades adiantadas, chega a pausa para a janta. O tropeiro, quentinho, recém-preparado, nunca foi tão saboroso. Vou comer onde? “Olhas a escadaria aí”.

Da retaguarda para o front

O público começa a entrar, a adrenalina aumenta. Engraçado isso! Será que vou dar conta do serviço? Fui deslocado para a bancada das bebidas. Tiro o refrigerante das geladeiras e já despejo no copo para adiantar? Mas se perder o gás e esquentar? Os clientes reclamam de tudo, tem que saber dosar. Antes do jogo, o atendimento foi fraco. No intervalo é que o bicho pega.

FOTO: Moisés Silva
Mineirão na pele
Para evitar filas, a bebida já é posta na mesa para agilizar

Os berros e a cantoria aumentam. O jogo começa. Não pode ficar com fone de ouvido ou sair para acompanhar o jogo pelas TVs nos corredores. Você fica imaginando, imaginando, aguardando um estrondo mais forte.

Intervalo. É agora. Tis, tis, tis... é o som do abrir das latas. As unhas chegam a doer. “Uma cerveja, por favor!”, pede um torcedor. “Vira o copo para não dar espuma, Zé”, recebo a ordem. O Mineirão explode, o eco se espalha. É gol, fácil notar.

Reabastecer é preciso!

FOTO: Moisés Silva
Mineirão sentindo na pele
As estufas com rodinhas facilitam o transporte da comida

O movimento não está tão desesperador e sou convocado a ajudar no reabastecimento. Os outros bares precisam de tropeiro. As estufas de rodinha com as marmitas já estavam preparadas. Mas tenho que levá-las para os camarotes, no andar de cima. Driblo um torcedor, outro, passo ignorado, até que uma moça gentil me dá a vez no vão da porta, antes da rampa. Uaaaarrrrrr! Outro gol!

O cansaço começa a bater. É impressionante como o tempo passa voando. Que acabe logo tudo isso... Ufa, enfim, acabou. Torcedores eufóricos com a vitória e você ali, prostrado. Hora de lavar as vasilhas e limpar a cozinha. Sete horas e meia de trabalho depois, desculpe, não aguento mais. Pode descontar do meu ordenado.

Trabalho com alegria

Dona Sônia foi minha anfitriã, 60 anos de idade, 30 anos de Mineirão. Ela estava empolgada, ganhou um funcionário extra. “Coloca o menino pra trabalhar, gente!”.

A maioria ali não tem contrato de trabalho. Ganham R$ 75 no fim do expediente. Jovens, quase todos vieram direto do trabalho fixo para o bico da noite. A rotatividade é grande. Um indica o outro. É assim que funciona. De carteira assinada mesmo, só as cozinheiras e os parentes da dona do pedaço.

O serviço é agitado, mas dá para se divertir. “Au, au, au”, “au, au, au”, que diabo é isso que o colega ao lado tanto fala? Olho no corredor, está explicado: uma bela garota não passa despercebida mesmo. “Olha a brincadeira!”, dona Sônia pega no flagra.

Mas teve um que se deu bem. Pediu, jogou um lero-lero e ganhou um adereço do Atlético de uma torcedora. Era para ser vendido, mas foi um presente da bonitona. Que moral, hein? 

Estava ali a trabalho, mas em pouco tempo fiz várias amizades. O Mineirão agradece o empenho de vocês.

Rádio Super

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