O gigante desperta: a construção e inauguração do Mineirão

Após a realização da Copa do Mundo de 1950, percebeu-se a necessidade da construção de um estádio que comportasse o assíduo público mineiro em sua crescente paixão pelo futebol. Os antigos estádios, todos com capacidade para praticamente dez mil pessoas, não suportavam a demanda, nem mesmo o Independência, considerado à época um dos mais modenos estádios da época. O esporte sobrevivia, mesmo com o amadorismo das instituições responsáveis por sua gestão. Além disto, a disputa com o eixo-Rio São Paulo se intensificava. Belo Horizonte precisava responder a altura. O Mineirão veio a calhar. 

O sonho começou a se transformar em realidade apenas em 1959, após uma proposta do deputado estadual Jorge Carone. O projeto estipulava a construção de um estádio por meio de uma parcela da renda adquirida pela venda de bilhetes da Loteria Estadual. As críticas vieram, como relembra o vereador e locutor esportivo Alberto Rodrigues. "Críticas sempre existiram, assim como é hoje. As pessoas falavam que o governo estadual deveria gastar dinheiro com outras coisas, mas o futebol é ópio, a paixão do povo. A construção do Mineirão transformou Belo Horizonte. Foi a redenção do futebol em Minas Gerais", apontou. 

Apesar disto, o projeto foi aprovado e sancionado pelo governador Bias Fortes. O Mineirão começava a sair do papel. A primeira atitude do governo mineiro foi a contratação do recém formado engenheiro Gil César de Moreira Abreu. Tudo estava caminhando de maneira perfeita. Mas um detalhe ainda estava em falta: o local. Foi só no dia 27 de fevereiro de 1960, que o Ministério da Educação e Cultura, a Universidade de Minas Gerais, o Conselho de Administração do Estádio de Minas Gerais e a Diretoria de Esportes do Estado de Minas Gerais, firmaram um acordo para construção do estádio no terreno atual. 

As obras então começaram a todo o vapor, primeiro com 250 operários. Mas o temor por uma debandada no projeto sempre existiu, conforme relata Afonso Celso Raso, membro do conselho gestor do América, e um dos verdadeiros militantes da causa.  "Por várias vezes  o governo quis parar as obras do estádio.  Aqueles foram tempos Pré-Revolução Militar, me recordo até de uma paralisação de funcionários, mas se as obras fossem interrompidas, o desemprego na cidade seria muito grande. A população de Belo Horizonte tinha abraçado a obra", afirmou. 

As adversidades foram superadas quando no dia 5 de setembro de 1965, o Mineirão foi oficialmente inaugurado, em uma partida que colocou frente a frente a seleção mineira e o tradicional River Plate, da Argentina. O Estádio de Minas Gerais era o verdadeiro extâse da crônica esportiva e o orgulho da população. "Em Minas, porém, a grama é inigualável, de um verde puro, uniforme, viçosa como eu nunca vi, no Wembley, em Londres, ou no Vale do Jamor, em Lisboa. [...] Os mineiros orgulham-se, também do seu estádio ser perfeito sob todos os pontos de vista. Copiaram muita coisa do Maracanã e estudaram as plantas das principais praças de esportes ao redor do mundo. Inteligentemente, aperfeiçoaram o que era bom, eliminando o supérfluo", estampava a revista Manchete de 18 de setembro de 1965. 

Para o primeiro duelo, faltavam alguns detalhes, como lembra Afonso Celso Raso. "Eles estavam colocando catraca no dia da inauguração e tinha bastante poeira das obras ao redor do estádio. Eles não tinham construído toda aquela estrutura. Mesmo assim, o pessoal foi em grande número ao local. Quem ficou em casa para assistir o jogo pela TV Itacolomi perdeu o espetáculo. Eles tinham prometido a transmissão do jogo ao vivo, mas um problema técnico impediu este feito". Aquele jogo foi vencido pelos mineiros por 1 a 0, gol do atacante Buglê.