"Extraordinário" é matematicamente calculado para te fazer chorar. Depois, sorrir. E depois, acreditar no poder da bondade e de criancinhas encantadoras. E faz isso com competência. O filme, que estreia nesta quinta-feira (7), nunca tenta ir além de sua fórmula e do seu objetivo de passar uma mensagem. E se você não for cínico a ponto de rejeitar essa manipulação barata, vai ver um longa bonitinho, bem atuado e importante nos dias atuais.
O filme segue o primeiro ano na vida de Auggie (Jacob Tremblay, de “O Quarto de Jack”) que, após nascer com uma deformação facial, vai para a escola pela primeira vez na 5ª série. O roteiro retrata a jornada dos pais Isabel (Julia Roberts) e Nate (Owen Wilson), lidando com a ansiedade da separação e com o pânico do que espera o filho; da irmã mais velha Via (Izabela Vidovic), que cresceu negligenciada e com a pressão de ser perfeita para não ser outro fardo para os pais; e do próprio Auggie, enfrentando a crueldade inerente a crianças de 10 anos.
Se o roteiro do diretor Stephen Chbosky tem o mérito de dar espaço a todas essas histórias e pontos de vista, seu ponto mais fraco é exatamente nunca conseguir ir além do previsível em nenhuma delas. Uma das grandes qualidades do filme anterior de Chbosky, o ótimo “As Vantagens de Ser Invisível”, era partir da fórmula do longa de amadurecimento e arriscar inventividades visuais e reviravoltas narrativas que lhe davam autenticidade e personalidade. Aqui, ele se resume a ligar a câmera e contar a história sem jamais chamar a atenção, para que o foco nunca saia da mensagem.
E é uma mensagem importante. “Extraordinário” é um filme sobre como somos um amontoado de buracos que precisa de outras pessoas para preenchê-los. E a melhor forma de fazer isso não é pensar nos próprios buracos, mas enxergar o dos outros e como você pode preenchê-los. Encontrar espaço para mostrar que Jack Will, o amiguinho de Auggie, também tem sua história deixa isso bem claro.
E se você acha que falar sobre a importância da empatia é batido hoje em dia, olhe ao redor para um mundo governado por Trumps e Bolsonaros. A melhor cena do filme revela que nenhuma criança nasce um bully, e que ódio e intolerância são reproduções do que se vê em casa – mostrando como “Extraordinário” é tão importante para os pais quanto para os filhos.
Mesmo que isso seja executado como uma receita em que você sempre sabe o próximo ingrediente – sem jamais surpreender ou arriscar algo que ameace a cara de “Sessão da Tarde” do filme – ela funciona graças a um elenco escalado sob medida. Além de Chbosky reafirmar seu talento para dirigir jovens atores, Tremblay é um poço de carisma. Ainda que esteja mais histriônico que em “Quarto”, quando ele chora, todos choramos. E o público adulto é conduzido pela performance de Roberts, provando a universalidade atemporal de uma grande estrela como uma mãe torcendo para que o mundo trate seu filho com decência: quando Julia Roberts sorri, todos sorrimos. Pode ser batido, nada original e previsível – mas em 2017, parece que ainda precisamos dessa lição.
Ponta brasileira
A atriz Sonia Braga faz uma ponta no filme. Ela vive a avó falecida do protagonista e divide uma única cena, em flashback, com a adolescente Via. Mais tarde a personagem de Roberts diz que vai fazer “feijoada” para o marido, sugerindo que Isabel pode ser filha de brasileiros, mas isso nunca fica claro.
Aos 11 anos, ator mirim encara novo desafio no cinema
LOS ANGELES, EUA. Aos 11 anos, o ator canadense Jacob Tremblay volta a encarar um personagem desafiador. Em “Extraordinário”, Tremblay é Auggie, um garoto com síndrome de Treacher Collins, uma desordem craniofacial genética. “Ele tem um rosto diferente. Estuda em casa até que seus pais decidem que talvez seja hora de ir para uma escola de verdade. O filme é sobre sua aventura na escola pública, onde faz amigos e sofre bullying. É uma história muito boa”, explica o ator.
Para interpretar Auggie, contracenando com Julia Roberts e Owen Wilson, Tremblay entrou em contato com pacientes de um hospital infantil em Toronto. “Pedi para me mandarem cartas contando suas experiências”, disse. Ele colocou tudo num livro, bem como as fotos que tirou em encontros promovidos pela Associação de Crianças com Desordens Craniofaciais. “Isso me ajudou muito, porque eu me lembrava sempre para quem estava fazendo esse filme e como estava ajudando”, contou.
Os últimos dois anos revolucionaram a vida do menino. “Tenho tido ofertas de bons papéis e feito muitas entrevistas”, disse o garoto. “Mas não me mudei ainda para Los Angeles e espero não precisar”, completou Tremblay.
FOTO: Dale Robinette / Paris / divulgação |