No ano de 79 d.C., a cidade de Pompeia, na Itália, e seu anfiteatro, palco de batalhas entre gladiadores, foram destruídos após o vulcão Vesúvio entrar em erupção. Quase 19 séculos depois, mais precisamente em 1971, o Pink Floyd se “hospedava” no local para gravar o icônico filme “Live at Pompeii” – lançado em 1972 –, com a banda executando músicas sem a presença de público.
Nos idos da década de 1970, David Gilmour, um dos integrantes do quarteto inglês, já demonstrava toda sua maestria em se utilizar de poucas notas da guitarra para “contar uma história”, como na clássica “Echoes”, o ápice daquele registro. Pois eis que 45 anos se passaram até que o mesmo Gilmour resolveu contar uma nova história, no mesmo palco.
Em 2016, o guitarrista – juntamente com sua banda solo – tornou-se o primeiro ser humano a se apresentar para uma audiência, desde os tempos dos gladiadores. Diante de uma plateia de 3.000 pessoas – capacidade máxima permitida para a realização do concerto no local –, Gilmour destilou canções do Floyd, de seu mais recente trabalho, “Rattle That Lock” (2015), e de outros discos de sua carreira, culminando no CD e no DVD – ambos em formato duplo – “Live at Pompeii” (2017).
A trinca que abre o show – que faz parte da turnê do último álbum – é oriunda de “Rattle That Lock”. “5 A.M.”, a faixa-título e “Faces of Stone” já traziam um pouco do que seria aquela noite: um show de iluminação e cores, uma banda coesa e inspirada e um Gilmour, como sempre, beirando a perfeição em termos de performance.
Mas nenhuma delas conseguiu levar os espectadores ao delírio da mesma forma que em “The Great Gig in the Sky”, composta pelo saudoso tecladista do Floyd, Richard Wright. É notório que, embora o guitarrista tenha consigo um arsenal de ótimas músicas com sua banda solo, são as canções clássicas do grupo de rock que contagiam a grande maioria dos fãs.
A primeira parte da apresentação tem ainda vários momentos marcantes, a destacar a sempre emotiva “Wish You Were Here” e a excelente execução de “Money”, com direito a um show à parte do saxofonista brasileiro João Mello.
Depois de uma pausa, Gilmour e sua banda retornam com mais uma sucessão de grandes temas, como as antológicas “Shine on You Crazy Diamond”, “Time/Breathe (In the Air) (Reprise)” e “Confortably Numb”.
Haverá aquele fã mais radical que lamentará a ausência de “Echoes”, pelo seu papel tão emblemático presente no “Live at Pompeii” de 1972. Por outro lado, aquela canção só se tornou icônica naquele filme por conta da química existente entre os quatro integrantes do Floyd à época – Gilmour, Wright, o baixista Roger Waters e o baterista Nick Mason. Talvez, se Gilmour tivesse revisitado “Echoes” neste novo “Pompeii”, ela não fizesse tanto sentido. E uma coisa é certa: o guitarrista não precisou dela para cravar novamente um lugar na história de Pompeia.
FOTO: Columbia Records/Divulgação |