Quando Maria Bethânia gravou o álbum “Álibi”, em 1978, convidou Alcione para participar de uma das faixas. Mas surpreendentemente não chamou a Marrom para cantar um samba, mas uma música de Chico Buarque (“O Meu Amor”). Espertíssima, a baiana sabia que Alcione era uma grande cantora de samba, mas que naquela voz de contralto descia bem qualquer gênero.
No ano passado, Alcione foi desafiada novamente. Foi convidada pelo produtor André Midani a participar do projeto “Inusitado”. Nele, cantaria somente músicas francesas. Em cena, desfilando um repertório que ia de Piaf a Charles Aznavour, a maranhense comprovou que não é uma cantora qualquer.
Agora, Alcione mostra que em seu timbre jazzístico também há espaço para outro ritmo popularíssimo, o bolero. Tanto que no ano que completa 45 anos de carreira gravou um CD e DVD, “Alcione Boleros”. Neste sábado (29), a Marrom chega à cidade para lançar CD e DVD em show único, no BH Hall.
No repertório, além de clássicos do gênero, sucessos de carreira. Alcione conta que o bolero sempre teve lugar na sua vida. “Convivi com a orquestra do meu pai, que ensaiava na sala da minha casa. Sempre gostei. Mas quando fui cantar na noite, cantei mais blues e samba. Mas o bolero nunca saiu de mim. Tanto que há dois anos tinha essa ideia do disco. No show, coloquei boleros marcantes. Dei nova vestimenta a eles, cantando do meu jeito. Quem ouviu Angela Maria, Nubia Lafayette, Angela Maria, não esquece”, conta a cantora, que já revelou ter sofrido muito por amor na vida. “Ouvindo bolero, então...”.
A cantora não esconde que foi difícil escolher o repertório. “Tem muita coisa boa. Eu e minha irmã começamos a pesquisar. Escolhi os que me causaram mais impacto (e começa a cantarolar ao telefone, ‘devolvi o cordão e a medalha de ouro’). Essa é do tempo em que eu queria ser a Núbia Lafayette”, brinca.
Retorno. Alcione conta que tem ficado “impressionada” com a receptividade do público. “Todos cantam os boleros comigo, sem parar. Ninguém esqueceu as letras. É lindo ver como a memória musical ainda está preservada nas pessoas. Quando canto, o povo vem todo cantando junto”, diz, orgulhosa.
Este ano, Alcione foi capa da “Vogue”, onde apareceu reverenciada pela top model Naomi Campbell.
“Não sou referência na moda. Isso é coisa do (fotógrafo) Mario Testino, que é meu fã. Naomi quis se jogar aos meus pés e me abraçou. Só fiz colocar a mão na cabeça dela, parecia até mãe de santo (risos). Eles gostam da minha maneira de andar, das minhas túnicas. Mas tenho meu jeito de vestir e nunca fui escrava da moda. Tenho meu estilo”, determina, revelando que tem projeto de em breve fazer algo ao lado de Frejat.
Sobre Belo Horizonte, fala que já estava com saudade do público daqui. “Pensava que o povo não me amava mais. Eu conheço a maioria dos músicos. É um lugar que tem tradição de músicos bons”.
(com Jessica Almeida)
Alcione
No show “Boleros”. BH Hall (av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, 4003-5588). Neste sábado (29), às 22h. De R$ 60 (arquibancada, inteira, 1º lote) a R$ 480 (mesa, setor 1).
Isso também é Alcione
Alcione chegou atrasada ao seu show, dias atrás, na quadra da União da Ilha e, quando começou a cantar, percebeu um homem na plateia com o braço levantado. Ele apontava o próprio pulso, como se mostrasse o relógio, para lembrá-la de seu atraso. A Marrom não perdoou: “Peraí. Para tudo. O que é que esse moço aí tá me mostrando? Um relógio? Tô atrasada? Nenhum macho me mostra relógio, rapaz!. O único homem que poderia me mostrar o relógio já morreu. Era meu pai”. A plateia foi à loucura.
Repertório
“As Quatro Estações” (Outono) - Texto de Elisa Lucinda ouvido em off na voz da escritora
“Gracias a la Vida” (Violeta Parra, 1966)
“Recusa” (Herivelto Martins, 1952)
“Desacostumei de Carinho” (Fátima Guedes, 1981)
“Amor Amigo” (Roberta Miranda, 2016) - música inédita
“As Quatro Estações” (Inverno) - Texto de Elisa Lucinda ouvido em off na voz da escritora
“À Sombra do Teu Sorriso” (The shadow of your smile) (Johnny Mandel e Paul Francis
Webster, 1965, em versão de Luis Bittencourt, 1966) “Quase” (Mirabeau e Jorge Gonçalves, 1954)
“Abandono” (Nazareno de Brito e Presyla de Barros, 1955)
“Que Queres Tu de Mim?” (Jair Amorim e Evaldo Gouveia, 1964)
“As Quatro Estações” (Primavera) - Texto de Elisa Lucinda
“Apelo” (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966)
“Pra Você” (Silvio César, 1965)
“Segredo” (Herivelto Martins e Marino Pinto, 1947)
“Quem Dera” (Julio Alves, 2016) - música inédita
“Escríbeme” (Guillermo Castillo Bustamante, 1958)
“As Quatro Estações” (verão) - Texto de Elisa Lucinda
“Besame” (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1988)
“Risque” (Ary Barroso, 1952)
“Eu Te Amo” (Irany de Oliveira, 1961)
“Paixão de D’Artagnan” (Altay Veloso, 1988)
“Corsário” (João Bosco e Aldir Blanc, 1975)
“Gracias a la Vida” (Violeta Parra, 1966)