Senta e respira que a lista é longa. Na premiação da noite dessa terça-feira (27), o cinema mineiro saiu com nada menos que 11 Candangos da 49ª edição do Festival de Brasília: melhor fotografia em curta-metragem, para “Solon”, de Clarissa Campolina; melhor ator em curta (Renato Novais, por “Constelações”); melhor atriz em curta para Lira Ribas, por “Estado Itinerante”, que venceu ainda o Prêmio Especial do Júri e os prêmios de melhor curta do júri da crítica e do Canal Brasil; melhor ator em longa, para Rômulo Braga, por “Elon Não Acredita na Morte”; melhor ator coadjuvante para Wederson Neguinho (desbancando ninguém menos que Lima Duarte, em “Deserto”) por “A Cidade Onde Envelheço”, que faturou ainda os prêmios de melhor atriz (para “As Franciscas” Francisca Manuel e Elisabete Francisca), melhor direção e melhor filme para Marília Rocha. Eu avisei que era longa.
“Esse filme é a história de duas portuguesas que acreditaram na possibilidade de viver uma vida melhor no Brasil real, que não existe mais hoje. Para todas as pessoas que apoiam esse golpe de merda, este país pode não ser meu, mas também não é vosso”, afirmou o produtor português João Matos, ao aceitar o Candango de melhor filme em nome de Marília, que não pôde comparecer ao festival. A performance do audiovisual do Estado, que saiu o mais premiado da noite, coloca pressão sobre as políticas públicas da Secretaria de Cultura para o setor e reverbera os protestos contra o fim do Filme em Minas, responsável por todas as produções vencedoras.
“A Cidade Onde Envelheço” dividiu as principais premiações da noite com o gaúcho “Rifle”, eleito melhor filme pela crítica, além de melhor roteiro e som; e o documentário “Martírio”, melhor filme segundo o voto popular e vencedor do Prêmio Especial do Júri. “Vivemos um momento sombrio de estado de exceção. Para povos à margem, o estado de exceção é a regra. Temos que aprender com eles como resistir a este surto fascista que o Brasil está vivendo hoje em dia”, disparou Tita, que assina a direção do longa ao lado do franco-brasileiro Vincent Carelli e dedicou os prêmios a todos os índios guarani-kaiowá que tombaram na luta retratada no filme.
E numa noite em que os atores e as mulheres mineiras dominaram os holofotes (Clarissa Campolina ainda venceu o Candango de melhor montagem em longa, pelo cearense “O Último Trago”), a grande revelação foi a jovem diretora Ana Carolina Soares, que subiu ao palco quatro vezes em nome de seu curta “Estado Itinerante”, que acompanha uma cobradora de ônibus tentando escapar de uma situação de abuso doméstico. “A violência não é só física, é simbólica também. E o cinema é a arma que eu uso para lutar”, considerou a mineira em seu agradecimento, dedicando os prêmios às atrizes de seu elenco.
“Estado Itinerante” dividiu a premiação de curtas com o pernambucano “O Delírio é a Redenção dos Aflitos”, que levou melhor direção para Fellipe Fernandes, roteiro e direção de arte; e a animação paulista “Quando os Dias Eram Eternos”, de Marcus Vinícius Vasconcelos, eleito melhor filme e trilha musical pelo júri oficial. “A animação brasileira venceu melhor filme duas vezes no Festival de Annecy, foi indicada ao Oscar e bate recordes de audiência na TV paga. E agora estamos correndo o risco do fim de tudo isso, com o desmonte da EBC e a ameaça ao Fundo Setorial do Audiovisual. Não podemos deixar isso acontecer”, convocou o animador paulista, ecoando os discursos da noite em defesa das políticas públicas de audiovisual no país e da gestão de Manoel Rangel na Ancine.
Entre os longas, também foram premiados “O Último Trago” (montagem, direção de arte e atriz coadjuvante, para Samya de Lavor), o documentário “Vinte Anos” (melhor trilha musical) e o alegórico “Deserto” (direção de arte), estreia do ator Guilherme Weber na direção.
Veja abaixo a lista completa dos vencedores Festival de Brasília 2016:
LONGAS
- Melhor Filme: “A Cidade Onde Envelheço”, de Marília Rocha (R$ 100 mil)
- Melhor Direção: Marília Rocha, por “A Cidade Onde Envelheço” (R$ 20 mil)
- Melhor Ator: Rômulo Braga, por “Elon Não Acredita na Morte” (R$ 10 mil)
- Melhor Atriz: Elisabete Francisca e Francisca Manuel, por “A Cidade Onde Envelheço” (R$ 10 mil)
- Melhor Ator Coadjuvante: Wederson Neguinho, por “A Cidade Onde Envelheço” (R$ 5 mil)
- Melhor Atriz Coadjuvante: Samya de Lavor, por “O Último Trago” (R$ 5 mil)
- Melhor Roteiro: Davi Pretto e Richard Tavares, por “Rifle” (R$ 10 mil)
- Melhor Fotografia: Ivo Lopes, por “O Último Trago” (R$ 10 mil)
- Melhor Direção de Arte: Renata Pinheiro, por “Deserto” (R$ 10 mil)
- Melhor Trilha Sonora: Pedro Cintra, por “Vinte Anos” (R$ 10 mil)
- Melhor Som: Marcos Lopes e Tiago Bello, por “Rifle” (R$ 10 mil)
- Melhor Montagem: Clarissa Campolina, por O Último Trago” (R$ 10 mil)
- Prêmio Especial do Júri Oficial: “Martírio”
- Melhor Filme, segundo o júri da crítica: “Rifle”
- Melhor Filme, segundo o júri popular: “Martírtio” (R$ 40 mil)
CURTAS
- Melhor Filme: “Quando os Dias Eram Eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos (R$ 30.000)
- Melhor Direção: Fellipe Fernandes, por “O Delírio é a Redenção dos Aflitos” (R$ 10.000)
- Melhor Ator: Renato Novais Oliveira, por “Constelações” (R$ 5.000)
- Melhor Atriz: Lira Ribas, por “Estado Itinerante” (R$ 5.000)
- Melhor Roteiro: Fellipe Fernandes, por “O Delírio é a Redenção dos Aflitos” (R$ 5.000)
- Melhor Fotografia: Ivo Lopes Araújo, por “Solon” (R$ 5.000)
- Melhor Direção de Arte: Thales Junqueira, por “O Delírio é a Redenção dos Aflitos” (R$ 5.000)
- Melhor Trilha Sonora: Dudu Tsuda, por “Quando os Dias Eram Eternos” (R$ 5.000)
- Melhor Som: Bernardo Uzeda, por “Confidente” (R$ 5.000,00)
- Melhor Montagem: Allan Ribeiro e Thiago Ricarte, por “Demônia – Melodrama em 3 Atos” (R$ 5.000)
- Premio Especial do Júri: “Estado Itinerante”, de Ana Carolina Soares
- Melhor filme, segundo o júri da crítica: “Estado Itinerante”
- Melhor filme por júri popular: “Procura-se Irenice”, de Marco Escrivão e Thiago Mendonça (R$ 10 mil)