Ao “comprar o livro pela capa”, Rafael RG teve o start para a exposição que ele estreia neste sábado em BH. “A Cidade Onde Envelheço” repete o nome do longa-metragem dirigido por Marilia Rocha e lançado em 2016, todo rodado na capital mineira. “Vi o cartaz do filme no Cine 104, mas demorei para assistir. Primeiramente me apropriei do título porque percebi que eu realmente estava envelhecendo em Belo Horizonte quando decidi me mudar para cá, e isso me tocou”, justifica RG.
Nascido em São Paulo, o artista plástico reside há dois anos na cidade. “A exposição já estava em produção quando eu então vi o filme, e me surpreendi porque uma das personagens tem o desejo de ir embora, e é o que vivo agora. Essa exposição que inauguro é como uma despedida, que vai durar o tempo em que vou continuar morando aqui”, conta. A mostra fica em cartaz até 23 de maio, logo depois, o entrevistado parte para uma residência em Londres e planeja morar em Salvador na volta.
Tal como o batismo, todas as peças apresentadas são inspiradas nesse período de vivência em terras mineiras. “Uma Mão Saindo de Uma Manga”, por exemplo, é homenagem ao pintor belo-horizontino Amadeo Lorenzato (1900-1995). “Ver minha vida toda aqui inclui os artistas que conheci, e o Lorenzato é uma dessas descobertas. Tive contato com a obra dele num trabalho avulso e, depois, numa retrospectiva que visitei. A história dele me influenciou, porque eu sempre procuro fazer referência a esses artistas autodidatas, sem formação acadêmica”, informa.
Graduado em artes visuais pela Belas Artes de São Paulo e com presença em mostras e festivais da Argentina, México, Colômbia, Alemanha, Polônia, Espanha, Holanda e diversas cidades brasileiras, RG também destaca uma criação baseada na avenida do Contorno, intitulada “Eu e Você Fora de Contorno”. “Pensando o fato de a cidade ser planejada, é curioso que ela tenha se expandido tanto para além desse seu contorno inicial”, observa.
Essa é uma das condições diferenciadas que ele vê em relação a BH. “Os deslocamentos aqui, em comparação a São Paulo, parecem mais fáceis, as coisas são mais conectadas. A sensação é que você conhece todo mundo, que as pessoas estão todas lá, parece que você não consegue fazer nada escondido”, brinca. “No começo eu gostava disso, mas depois foi me dando uma certa falta de ar. Não acho que seja melhor ou pior, a questão é que cada lugar tem a sua personalidade”, avalia.
Nesse ciclo de encontros e vias, a mostra traz, para além do cinema, outras intersecções. A obra “Poslúdio” traz à baila a música e a palavra escrita. Composta por uma partitura desenvolvida em parceria com o compositor Gabriel Francisco Lemos, ela será tocada pelo solista Alexandre Barros, da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, enquanto RG lê, no dia da abertura, um texto sobre uma de suas peregrinações noturnas pelas ruas da capital mineira. “A arte contemporânea pensa em todas as linguagens, mas eu vejo a música e o texto nesse contexto das artes visuais”, assegura o entrevistado.
Serviço. Exposição “A Cidade Onde Envelheço”, de Rafael RG, deste sábado (21) até 26 de maio, das 11h às 17h, na Periscópio Arte Contemporânea (av. Álvares Cabral, 534, Lourdes). Entrada gratuita.
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Despedida de onde envelheço
Exposição apresenta trabalhos inspirados no período de vivência do artista na capital mineira
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