O elenco, os papéis e todo o ambiente em que se passa a ópera “Porgy and Bess”, em cartaz no Grande Teatro do Palácio das Artes a partir de sábado (21), trouxeram transformações ao universo operístico no que diz respeito à composição musical.
“Ela se passa no Sul dos Estados Unidos, que é uma região quente, à beira da praia, onde se vive do cultivo do algodão e da pesca. Todo o contexto acabou trazendo para a ópera uma linguagem da música folk norte-americana e do jazz”, conta Silvio Viegas, regente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e diretor musical da produção.
“Além do ritmo jazzístico, temos uma orquestração diferente, que tem saxofone, banjo, bateria, ou seja, uma escrita musical que fala daquele momento da história e acaba trazendo para a ópera a música popular norte-americana”, completa o diretor.
As árias de “Porgy and Bess” se tornaram, posteriormente à estreia nos EUA, conhecidas do grande público, algumas imortalizadas na voz de diferentes artistas, o que abre outras portas de acesso ao público pouco frequente de récitas.
“É uma obra-prima de composição musical. E o público em geral, mesmo quem não tem proximidade com a ópera, conhece as árias como canções. Algumas delas foram gravadas por nomes como Janis Joplin, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Marisa Monte e Caetano Veloso. São conhecidas como canções norte-americanas e são, na verdade, ópera, como ‘Summertime’, por exemplo, a mais conhecida”, conta Fernando Bicudo, diretor cênico.
Outras árias, como “It Ain’t Necessarily So”, já regravada por Cher, “I Loves You Porgy”, adaptada para o jazz na voz de Nina Simone, e “I Got Plenty o’ Nuttin”, interpretada por Frank Sinatra, fazem parte das canções de “Porgy and Bess” que se tornaram mais conhecidas do que a própria ópera.
“Isso é excelente porque essa obra torna-se uma ótima oportunidade para formação de plateia e para as pessoas tomarem consciência de que a ópera não parou na Itália no século XIX. É preciso desmistificar a ideia de que ópera é para elite ou uma coisa careta”, comenta Bicudo.
“Porgy and Bess” será apresentada em dois atos e conta com a Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais e o Coral Infantojuvenil Cefart. A Cia. de Dança Palácio das Artes também integra o elenco com uma proposta coreográfica que traz referências de danças típicas da cultura negra. Criação de Cristiano Reis, diretor da companhia, a coreografia mescla movimentos da dança jazz, do hip-hop e do break a ritmos tipicamente brasileiros, como funk carioca e o axé.
A representatividade também passa por outras questões. As drag queens Babaya Samambaia e NaDja Kai Kai, personagens dos bailarinos Carlos Gomes e Lucas Medeiros, vão interpretar duas mulheres trans, demonstrando diálogo da nova concepção da ópera com os dias atuais.
Programe-se
O quê. Ópera “Porgy and Bess”, de George Gershwin
Quando. 21, 23, 25, 27 e 31 de outubro, às 20h, e dia 29, às 19h
Onde. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3236-7400)
Quanto. R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)