Ao completar 45 anos, o Balé Teatro Guaíra, grupo criado em Curitiba, escolheu “A Sagração da Primavera” para celebrar a sua trajetória. Em circulação pelo país, ele chega a Belo Horizonte, onde apresenta essa montagem amanhã, no Grande Teatro do Sesc Palladium. Aqui eles compartilham sua experiência com a Cia. de Dança do Palácio das Artes, que, abre a noite encenando “Entre o Céu e as Serras”. Cintia Napoli, diretora do Balé Teatro Guaíra, frisa que a escolha em trazer “A Sagração da Primavera” foi norteada pela importância dele para o repertório da companhia.
“Essa é uma criação muito forte. ‘A Sagração da Primavera’ é uma obra centenária de grande vitalidade, que propõe grandes desafios para um grupo de dança. É preciso ter muita responsabilidade ao propor essa coreografia, tendo em vista a história da peça, que causou polêmica durante a sua estreia, e às diversas versões de grande qualidade que já recebeu”, observa a diretora.
O espetáculo, de acordo com ela, surge repaginado e diferente daquele da década de 1990, do qual, inclusive, fez parte do elenco. “Em 2011, quando a coreógrafa Olga Roriz esteve conosco, houve um convite feito a ela para que reelaborasse a estrutura e a abordagem da coreografia, o que imprimiu outro tom ao destino dos personagens”, explica Napoli.
Originalmente composto por Igor Stravinsky e coreografado por Vaslav Nijinsky, o balé que narra o sacrifício de uma mulher escolhida para servir de oferenda ao deus da primavera, cumprindo as etapas de um ritual pagão, aparece agora protagonizado especialmente pela figura do sábio. “Ele e não apenas a eleita chama atenção. O personagem conduz as cenas que levam ao sacrifício da eleita. Outra mudança é que ela não aceita dançar até a morte como um papel doloroso, mas como algo a ser cumprido com orgulho”, diz.
Cintia aponta que isso trouxe um pouco mais de leveza ao espetáculo, se comparado ao desenho anterior. “Não sentimos muito o peso de ela ter sido escolhida para esse fim porque ela entende isso como um privilégio e atua com muito dignidade. Vem disso o esforço em dar o melhor de si até o fim”, acrescenta.
Embora o percurso pareça menos doloroso para a mulher da aldeia, os seus movimentos no palco não atenuam o seu cansaço diante da tarefa que lhe é dada. “O desgaste físico que passa a personagem é refletido pelo esforço da bailarina. É como se a artista deixasse de representar para realmente viver aquela situação. A atitude de tentar vencer o cansaço para dar o melhor de si está muito palpável”, diz.
Ao refletir sobre o modo como a obra dialoga com o presente, ela ressalta a possibilidade de se colocar em evidência o mote da superação dos desafios. “Como nos comportamos face a alguma dificuldade é algo que me indaga quando vejo a montagem. Isso é algo recorrente em nossas vidas e, para mim, ‘A Sagração da Primavera’ toca nos movimentos que acontecem quando nos dedicamos a alcançar algum objetivo”, resume.
Local. Já a Cia. do Palácio das Artes, ao mostrar “Entre O Céu e As Serras”, sinaliza uma aproximação com elementos da história e da cultura de Minas Gerais. A diretora, Cristina Machado, observa que na montagem há traços característicos do comportamento mineiro. “Fizemos uma pesquisa de campo há alguns anos, fomos a cidades como Ouro Preto e captamos características gestuais profundamente ligadas a nossa história e às contribuições de diversas comunidades, como a dos afrodescendentes”.
Agenda
O quê. Balé Teatro Guaíra, com “A Sagração da Primavera”, e Cia. do P alácio das Artes, com “Entre O Céu e As Serras”
Quando. Amanhã, às 20h
Onde. Grande Teatro do Sesc Palladium (av. Augusto de Lima, 420, centro)
Quanto. Entrada gratuita
Saiba mais
Antes de encenarem, amanhã, os bailarinos do Balé Teatro Guaíra e da Cia. de Dança do Palácio das Artes vão realizar nesta quinta-feira uma performance no foyer do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537, centro), que deve acontecer a partir das 17h. A ação é um desdobramento do encontro entre os grupos.