Em 23 de setembro de 1961, um assassinato cometido dentro do Cine Splendid, no centro de Assunção, no Paraguai, parou o país. Apesar da grande repercussão na imprensa, mais de 50 anos após um crime emblemático durante a ditadura do militar Alfredo Stroessner, boa parte dos paraguaios ainda não sabem o que aconteceu. Movida por essa inquietude similar a tantos casos mal explicados da ditadura brasileira, a dramaturga mineira Sara Pinheiro escreveu o texto “Cine Splendid”, apresentado hoje, pela primeira vez, em leitura dramática do Grupo Armatrux, na C.A.S.A – Centro de Arte Suspensa e Armatrux.
A primeira exibição da história ao público deve revelar mais do que um caso isolado e misterioso dentre tantos nas ditaduras latinas, quando o informante da polícia Pedro Prokopchuk foi morto pelo croata e também informante policial Batrick Kontic, em pleno sábado à noite, dentro do Cine Splendid.
A história foi investigada pelo advogado paraguaio Juan Marcos Gonzales, que publicou o livro “O Crime do Splendid Filme”, em 2011, trazendo à tona documentos do chamado Arquivo do Terror, reunindo histórias diversas sobre o assassinato no cinema e outras da ditadura paraguaia. O que atiçou ainda mais o desejo da dramaturga mineira.
“Estive no Paraguai durante um mês e ouvi várias pessoas, inclusive funcionários que trabalharam no cinema após o atentado. E alguns falam que era coisa da CIA, outros do terrorismo, e muitos nem sabem o que dizer. Então, tive a ideia de costurar essa história analisando como a ditadura interferiu na percepção das pessoas”, diz Sara.
No texto da dramaturga, dividido por quadros fragmentados, ao invés de ter o crime como cerne, ela usou histórias de pessoas que estão envolvidas em um dia de exibição do Cine Splendid, traçando perfis de um pipoqueiro que atuava como informante estrangeiro, ou um senhor que passou a ouvir as torturas que aconteciam em um órgão policial ao lado de sua casa.
“O exemplo desse senhor diz muito do que pretende o texto. De tanto esse senhor reclamar do barulho da sirene da polícia, os policiais resolveram silenciá-la e então o senhor começou a ouvir as torturas”, relata Sara.
Toda a história foi construída no projeto Núcleo de Dramaturgia, realizado com Eid Ribeiro no C.A.S.A. Mas a estreia do texto em seu primeiro formato interpretativo de palco, realizada pelos atores do Grupo Armatrux, vai ser uma surpresa para a própria Sara.
“Meu trabalho se deu muito na construção do texto com o Eid. Acompanhei o envolvimento do Armatrux, mas não tenho ideia de como eles vão interpretar no palco, será uma novidade completa”, ela diz.
Para o ano que vem, o Grupo Armatrux vai realizar a montagem completa do espetáculo, que deverá estrear ainda no primeiro semestre do ano.
Agenda
O QUE. Leitura Dramática do texto “Cine Splendid”, de Sara Pinheiro
ONDE. C.A.S.A. (rua Himalaia, 69, Vale do Sol, Nova Lima)
QUANDO. Hoje, às 20h
QUANTO. Entrada gratuita
Infantil
Além do “Cine Splandid”, Sara Pinheiro também está em processo de montagem de seu primeiro musical infanto-juvenil. “Mero”, desenvolvido durante o projeto Janela da Dramaturgia no ano passado, conta a história de um peixe que, pelo processo natural de sua evolução, pode mudar de sexo.