Não tem como falar da história da música brasileira sem lembrar de Dorival Caymmi (1914-2008). O poeta e músico cantou temas urbanos, a cultura praieira e o amor de uma forma única para a época, unindo a tradição do samba da Bahia a arranjos modernos. Sua importância para o cenário musical vem sendo lembrada no decorrer deste 2014, quando o artista completaria 100 anos de idade.
Entre as comemorações, está a série de apresentações do projeto Caymmi, Quando Se Canta Todo Mundo Bole, que chega ao Centro Cultural Banco do Brasil a partir de hoje.
A proposta do projeto é a de expressar todas as facetas de Caymmi por meio de suas músicas. Baseadas nisso, as curadoras Camila Costa e Natália Guimarães montaram três apresentações, cuja a primeira, “Requebre Que Eu Dou Um Doce”, acontece hoje e amanhã.
Nessa incursão à vida do artista, o público ouvirá um repertório que procura elucidar o modo como as mulheres foram retratadas nas letras do baiano. A interpretação das canções fica por conta de João Cavalcanti e Teresa Cristina. “É importante realçar esse universo feminino dele, pois o olhar que ele tinha sobre a mulher era muito diferente daquele vigente quando escreveu as canções. Ele descreve a beleza da mulher de uma maneira completamente sedutora, mas com um olhar natural, observando o andar e a fala, por exemplo, em vez de priorizar apenas os contornos do corpo”, diz Teresa.
Sobe ao palco com ela o produtor musical e cantor João Cavalcanti. “Estava tocando em um bar em 2001, quando ela chegou. Lembro que, na hora, todos da banda ficaram muito nervosos, pois Teresa já era conhecida e respeitada na época. Depois disso, começamos a conversar e as parcerias, apresentações em conjunto e amizade vieram como tempo. É sempre uma alegria estar no palco com ela”, lembra o cantor.
Além da parceria, ele destaca a formação instrumental proposta pelo diretor musical Carlos Pontual como uma ousadia. “A banda conta com violão, baixo acústico, percussão e trombone. Essa constituição não é usual, mas deu muito certo e tornou o show ainda mais lindo”, diz.
O repertório do show é composto por canções emblemáticas de Caymmi e outras que passam mais desapercebidas, como “Dora”. “Essa chama muito atenção, eu a acho linda. Também gosto muito de ‘Alegre Menina’ por ser uma síntese importante não só das figuras femininas, mas do coloquialismo visto no repertório dele”, diz o intérprete.
Foi ao utilizar essa informalidade que Caymmi conseguiu imprimir na música, explica Cavalcanti, um de seus maiores trunfos. “Antes dele, notava-se na música brasileira uma predominância por letras sofisticadas. Depois, porém, as letras mais orais começaram a se difundir na música e tornaram-se quase uma regra. A sofisticação na letras de Caymmi estava na harmonia e nas melodias”, diz o músico, que compara o ídolo a Pixinguinha e a Tom Jobim: “Você pode dividir a música antes de depois deles, estão no olimpo da música brasileira”, diz.
Nos próximos dois fins de semana, o Centro Cultural Banco do Brasil recebe outros duos formados, respectivamente, por Camila Costa e Bem Gil, e Alice Caymmi e Danilo Caymmi, para dar sequência à homenagem.
Agenda
O quê. Projeto Caymmi, Quando Se Canta Todo Mundo Bole, com Teresa Cristina e João Cavalcanti
Quando. Sexta e sábado, às 19h
Onde. Centro Cultural Banco do Brasil (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. R$ 10 (inteira)