“Sempre preferi sujeitos a objetos”, declarou Bob Wolfenson na primeira linha do texto de apresentação do livro “Jardim da Luz”, publicado duas décadas atrás. De fato, ao longo de mais de 40 anos de carreira, são inúmeras as personalidades e pessoas comuns que passaram diante de suas lentes, seja posando para um retrato, um ensaio de moda, um nu ou ambientadas num projeto mais documental.
Entre estas, as mulheres, sem dúvida, são personagens constantes no trabalho do fotógrafo, que, entre 1990 e 2000, fez história com seus cliques para a revista “Playboy”. Apesar da vasta presença feminina em sua obra, Wolfenson garante: “Eu não estou objetificando nenhuma delas”. É a partir dessa visão do próprio trabalho que ele traz agora a público seu sétimo livro, centrado em 58 fotografias de mulheres de seu círculo íntimo, além de famosas, a exemplo de Tais Araujo, Fernanda Torres, Juliana Paes, Rita Lee, Alessandra Negrini, Gisele Bündchen e Luiza Brunet.
Em Belo Horizonte, ele vai lançar o novo título, batizado com o seu próprio nome, no Sempre Um Papo, previsto para acontecer nesta sexta-feira no Auditório da Cemig. No encontro, o fotógrafo participará de um bate-papo, em que sua experiência no campo da moda, da publicidade e das artes visuais deverá ser colocada em pauta. Para conceber o volume, Wolfenson contou com o olhar do editor Roberto Linsker que pesquisou o acervo dele durante um ano para sugerir um recorte de imagens.
“O resultado é a reunião de trabalhos muito diversos, concebidos desde antes de eu ter uma carreira até os dias de hoje. Eu achei que o livro ficou muito bom, com começo, meio e fim, mas ele não é algo assim cronológico. Ele é um volume, de certa forma, errático, passando por diferentes momentos sem uma linha temporal muito nítida. Em algumas das imagens, você só consegue identificar a época porque, às vezes, aparece algo que está muito marcado nas roupas”, relata Wolfenson.
O processo de feitura da edição levou o artista paulistano a revisitar imagens que estavam praticamente adormecidas em sua memória, mas muito potentes, sublinha ele, no presente. Uma delas é o retrato, de 1987, em que a atriz Sônia Braga aparece nua, destacada sobre um fundo preto. “Quando eu fui pedir autorização para publicar as imagens, eu enviei para ela algumas opções. Uma delas era um retrato mais clássico, mas ela preferiu o primeiro. Eu escrevi de volta: ‘Tem certeza?’. Ela respondeu: ‘Sim’, mas pediu que a imagem não fosse utilizada na divulgação do livro. Porém, após essa onda moralista que vem atingindo as artes, ela voltou atrás e me mandou um e-mail dizendo que queria que essa foto fosse usada na divulgação”, conta ele.
Além desta, há no título imagens icônicas, como as do ensaio da atriz Maitê Proença, produzido no Sul da Itália, para a “Playboy” de 1996. Para Wolfenson, esse trabalho, que mostrava Maitê rodeada por pessoas locais, compondo cenas próximas dos filmes do neorrealismo italiano, foi divisor de águas em sua trajetória de fotógrafo de nus.
“A partir daí eu realmente só fiz o que quis, da forma que eu quis, numa linguagem em que a sensualidade ia além do que as pessoas, às vezes, esperavam da revista. Tanto que os leitores da ‘Playboy’, principalmente os masturbadores de plantão, não gostavam das minhas fotos. Eles achavam que eu ficava escamoteando o que realmente era importante. Eles queriam ‘sangue’, ‘carne’, e eu sempre tinha uma história, alguma coisa que provocasse a imaginação, outro tipo de fantasia”, completa o fotógrafo.
Comparados com os da década de 90, hoje esses ensaios não alcançam a mesma repercussão. Wolfenson atribui isso à própria saturação de imagens de mulheres nuas na internet. “As grandes estrelas hoje também não têm mais interesse nisso, porque se tornou algo muito diluído, perdeu a qualidade. Aquele tempo acabou, e não existe mais esse tipo de coisa nem vai existir. Quem pôde fazer, fez, e quem não viu vai ver em retrospectiva”, pontua.
Ao comentar se as discussões em voga sobre o machismo em torno da representação da figura feminina em comerciais e projetos artísticos o estimulam a repensar seu ofício, Wolfenson afirma que não necessariamente, porque não se sente desrespeitando as mulheres. “Se há o consentimento da mulher, e tendo em vista que elas hoje têm muito mais percepção do alcance que aquilo poder gerar, eu acho que o trabalho não é objetificador. Eu vejo as fotos como uma afirmação da autossuficiência da mulher em relação ao corpo dela”, frisa ele.
Agenda
o quê. Sempre Um Papo com Bob Wolfenson
quando. Sexta-feira (24), às 19h30
onde. Auditório da Cemig (rua Alvarenga Peixoto, 1200, Santo Agostinho)
quanto. Entrada gratuita