Não é raro ouvir por aí que o artista retorna ao seu estado infantil no ato da criação artística. Seja porque na infância a imaginação corre solta e permite ao artista experimentar outras facetas de si, seja porque, nos tenros anos, não há ainda o acúmulo de tempo que tanto influencia na sua produção.
Embora a infância seja tão lembrada, são poucas as produções que se destinam aos pequenos, deixando que as premissas da liberdade e da brincadeira de criança sejam preservadas. Pensando nisso, o coletivo Dança Multiplex apresenta, nesta quarta, o espetáculo “Parquear”, no parque das Mangabeiras, e quinta e sábado na praça da Liberdade.
“Nós começamos a ter encontros semanais no parque das Mangabeiras, em 2011, e lá tinha uma escola com várias crianças. Nossos encontros foram se transformando e se aproximando desse público. Nossa ideia é não partir de nada preconcebido e deixar que a interação seja natural, sem passo de dança, nada”, relata a dançarina Thembi Rosa, uma das integrantes do projeto.
No entanto, ela garante que o trabalho é de interesse de qualquer público. “Não existe faixa etária para esse trabalho. Todos participam. É curioso que, muitas vezes, são as crianças que convidam os adultos a participarem.
A performance se estrutura como um percurso, a partir da escolha do local de sua realização. Nele, quatro dançarinas realizam diversas ações se relacionando com a paisagem do lugar, com o público e com alguns objetos cênicos: bambus, tecidos, sombras, folhas, dentre outros. Apenas estar presente, aquecer, dançar e pesquisar nesses ambientes – parques e áreas verdes das cidades, bem distintas das salas de ensaio – são, por si só, um modo de modificar a própria dinâmica das bailarinas e a dos transeuntes desses espaços públicos. O contato com o outro é direto, rápido, inusitado e sem mediações. “Propomos alguns desafios para quem quer participar que envolvem os objetos. O equilíbrio do bambu, por exemplo. Como eu organizo o meu corpo para equilibrar uma vara de bambu?”, indaga a dançarina.
Em tempos em que a ocupação do espaço público tem forte conotação política – e movimentos organizados na cidade –, principalmente como reivindicação de políticas públicas para esses espaços, Thembi acredita que seu trabalho traz, em si, algo parecido. “Esse trabalho tem um caráter político, porque ele se coloca com uma apropriação, uma ocupação da cidade. Além disso, optamos por fazê-lo sem nenhuma estrutura técnica, para facilitar nossa circulação. Quem trabalha com teatro, dança sabe o trabalho que dá montar as estruturas para se apresentar. Acho que isso também é uma postura que demarcamos”, destaca Thembi.
Circulação. Embora tenha sido pensado como um trabalho que seria feito sem buscar recursos por meio de editais, “Parquear” conseguiu apoio de alguns projetos e, por conta disso, circula por outras cidades. Direto de Itacaré – Bahia, onde acabara de apresentar a intervenção “Parquear” –, Thembi relaciona o trabalho do Multiplex à natureza. “Existe essa interferência do verde em nosso trabalho. É a primeira vez que trabalhamos com essa dimensão do espaço aberto. E aqui (na cidade baiana) nós tínhamos o mar como cenário”, destaca ela.
Agora, com o projeto de circulação aprovado no Prêmio Cena Minas, a performance fará apresentações em diversos espaços públicos da cidade. Além do parque das Mangabeiras, onde também se apresenta no dia 27 deste mês, a performance passará pelo parque municipal Renné Giannetti (25 e 26/4) e praça e dos Quatro Elementos (29/4).
Substituições
Novidade. O espetáculo “Parquear” contava com Thembi Rosa, Margô Assis, Kênia Dias e Renata Ferreira. Essa duas últimas foram substituídas por Karina Collaço e Heloísa Domingues. Karina tem experiência em dança para crianças e Heloísa foi bailarina do Grupo Corpo por vários anos.
Agenda
O quê. “Parquear”
Quando. Nesta quarta, às 9h30 , noparque das Mangabeiras (entrada pela avenida Bandeirantes); quinta, às 9h30, e sábado, às 16h, na praça da Liberdade.
Quanto. Gratuito