Nem só de Hollywood viveu o cinema em 1939. Mesmo sob a sombra da guerra iminente, a Europa produziu ao menos um grande clássico naquele ano: “A Regra do Jogo”, de Jean Renoir, considerado até hoje um dos melhores filmes de todos os tempos. “Eu não localizo grandes alterações na linguagem cinematográfica em obras como ‘E o Vento Levou’ ou ‘O Mágico de Oz’. O cinema é revolucionado em 39 por ‘A Regra do Jogo’”, afirma o crítico Mário Coutinho.
Para ele, o longa de Renoir antecipa inovações pelas quais “Cidadão Kane” ficaria conhecido, como o uso narrativo de planos-sequência e da profundidade de campo. Mas, acima de tudo, o grande destaque da obra, segundo Coutinho, é a maneira de ver os personagens, a ternura com que o cineasta francês enxerga aquele mundo. “É um filme que foi capaz de ver o fim de uma época que estava prestes a acontecer. Todo o massacre da Segunda Guerra já está previsto ali”, analisa. O professor Luiz Nazário acrescenta ainda um parente próximo do filme. “‘A Regra do Jogo’ é um clássico do realismo poético francês e, no mesmo ano, temos outro: ‘Trágico Amanhecer’, de Marcel Carné”, lembra.
Independente de serem mais ou menos conhecidos, Coutinho ressalta a importância daquele ano com uma frase do filósofo Gilles Deleuze, que disse que é preciso que o cinema filme não o mundo, mas a crença nele. “Restituir a crença no mundo: esse é o poder do cinema moderno quando deixa de ser ruim. É essa fé no mundo que esses bons filmes trazem”, pondera. (DO)