RIO DE JANEIRO. O ano é 1985, e a TV está ligada na casa irlandesa. Os filhos adolescentes assistem ao clipe de “Rio”, do Duran Duran.
“Ainda não se sabe se eles farão sucesso, mas são divertidos. E John Taylor é um dos melhores baixistas do Reino Unido atualmente”, diz um deles para o irmão.
O pai não resiste e comenta: “Não são exatamente os Beatles, não é? Se isso é o futuro, estamos perdidos. Vejam esse cara, ele nem está cantando ao vivo”.
O filho responde: “É um clipe! É arte! Todos fazem isso hoje em dia. É a mistura perfeita de música e de visual. É curto, vai direto ao ponto. Olha pra isso! Quem pode competir?”.
A cena de “Sing Street” – filme indicado ao Globo de Ouro na categoria melhor filme musical ou comédia, com seu olhar sobre um grupo de garotos que monta uma banda com clara influência duraniana – dá uma boa dimensão do que representava naquele momento o Duran Duran. O grupo, um dos que melhor soube explorar a nascente linguagem dos clipes, se apresenta no dia 26 de março no festival Lollapalooza Brasil, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Eles ainda se apresentam em 29 de março em Belo Horizonte. Três décadas depois, John Taylor (citado no diálogo de “Sing Street” não só como “um dos melhores baixistas”, mas também com os comentários “ele não é lindo?” e “as garotas adoram ele”) lembra aquele período, pondo-o em perspectiva com o presente.
“Adorei o filme”, comenta o baixista, por telefone, de Nova York, lembrando aquela época. “Os clipes trouxeram algo incrível porque artistas querem se expressar, e a imagem é mais uma forma de fazer isso. E, nos anos 80, aquilo era um fenômeno de massa. Todo mundo via MTV, ser parte daquilo era excitante”, diz.
Tomando cuidado em evitar o tom nostálgico – afinado à discografia recente da banda, que nos últimos dez anos lançou três álbuns de inéditas, “Red Carpet Massacre” (2007), “All You Need is Now” (2011) e “Paper Gods” (2015) –, Taylor nota que os clipes hoje não são tão importantes. Mais que isso, não vê substituto a eles.
“Não sei o que seria similar ao clipe hoje. Acredito que não há um formato único, todo artista tem que achar sua motivação. O que sei é que hoje não há nada como a MTV, aberta a gêneros, onde você ouvia metal, Michael Jackson, Poison, Duran Duran... Uma dieta variada de músicas que não existe hoje, quando as pessoas são muito orientadas pelas playlists de ferramentas como Spotify”, afirma.
O baixista, porém, segue sua dieta variada, longe dos serviços de streaming. Os ouvidos abertos foram fundamentais para a renovação da música do Duran Duran – cuja formação inclui o tecladista Nick Rhodes, o baterista Roger Taylor e o vocalista Simon Le Bon. Sem perder a assinatura, eles têm trabalhado com nomes como os produtores Mark Ronson e Nile Rodgers, a cantora Janelle Monáe e o guitarrista John Frusciante.
“Eu adoro o shuffle”, conta Taylor. “Ponho no meu iTunes as músicas que quero ouvir e dou shuffle, vêm as coisas mais diversas: Kate Bush, Prince, James Brown... Quando você ouve um só estilo, você fica limitado. Ouço também vinis, escolho meu lado favorito, gosto disso. E sempre monto uma playlist no computador com coisas novas, que estão sendo lançadas. Estou sempre em busca de um novo amor na música, sempre tenho um. Às vezes, pode até ser algo velho, mas novo para mim”.
Nos shows no Brasil, a banda apresentará clássicos como “Notorious”, “Rio”, “Save a Prayer” e “Ordinary World”, ao lado de sua produção mais recente, de canções como “Paper Gods” e “Last Night in the City”.