Depois de tantas idas e vindas aos estúdios de gravação, das audições das trilhas sonoras, dos ensaios e mais ensaios e de toda uma engrenagem que se move para colocar um espetáculo do Grupo Corpo de pé: a criação e as provas de figurino, os testes de luz e a cenografia, as fotos de divulgação, os vídeos, a coletiva de imprensa, as inúmeras entrevistas, os ensaios e mais ensaios, chegou a hora a estreia.
Embora falte um ajuste aqui, uma correção ali, já é o momento de colocar o filho no mundo e celebrar quatro décadas de uma história construída em diferentes ritmos e movimentos da dança. “Nós estamos imersos no teatro, trabalhando de manhã até de noite, fazendo todas as provas e os ensaios mais técnicos. Essa é a hora que a gente une todas as partes, os bailarinos, a técnica e todos os elementos do espetáculo”, conta a bailarina Janaína Castro que, em outubro, completa 15 anos de Grupo Corpo.
Com uma obra memorialista que se volta para os diversos balés e pessoas que passaram pelo Grupo Corpo e outra que aponta para uma renovação dos caminhos futuros, a companhia mineira volta ao Grande Teatro do Palácio das Artes, palco onde pisou pela primeira vez, em 1976. Como não fazia desde 1991, o Corpo faz hoje a estreia mundial de um programa duplo que fica em cartaz até 9 de agosto, antes de partir para São Paulo, Rio de Janeiro e, depois disso, para onde mais houver espaço para o lirismo da companhia.
FOTO: JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS |
"Suíte Branca" marca a estreia de Cassi Abranches, ex-bailarina do grupo que agora volta com espaço livre para se aventurar na criação coreográfica |
O Corpo faz parte de um universo que vai além do território onde se baseia. Setenta por cento das suas apresentações acontecem no exterior. Mas, como um reforço da cultura mineira que tanto abasteceu o grupo, os novos balés do Corpo dançam músicas de autores e intérpretes emblemáticos de Minas, assim como aconteceu no balé inaugural da companhia, “Maria Maria”, que teve trilha especialmente composta por Milton Nascimento e Fernando Brant.
O programa comemorativo do aniversário é marcado pelo contraste entre os dois grandes veios que alimentam o processo de criação artística do Corpo, o erudito e o popular, e, mais marcadamente, o clássico e pop. “Dança Sinfônica”, com coreografia assinada por Rodrigo Pederneiras, traz a composição de Marco Antônio Guimarães, diretor musical, arranjador, autor e criador dos instrumentos do Uakti Oficina Instrumental. Essa é a quinta trilha que Marco Antônio escreve para o Grupo Corpo e, novamente, o arrojamento é a marca que costura temas milimetricamente tecidos para a execução da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sob regência, sob a direção do maestro Fabio Mechetti.
Como um arranjo inesperado, Guimarães sobrepõe a sonoridade de alguns dos instrumentos construídos para Uakti à instrumentação tradicional da Filarmônica. Tem percussão feita com tubos de PVC, instrumento de corda com caixa de ressonância de cabaça e toda uma sutileza de modulações e mudanças de timbres que fazem a condução de um tema para outro.
Já o pop vem com a música de Samuel Rosa e o grupo Skank que fazem a trilha de “Suíte Branca”, marcando a primeira incursão dos mineiros como colaboradores do Corpo. “Mais do que a música, eu queria uma atitude rock'n'roll e foi isso também que me fez querer desafiar a gravidade, quando ouvi a música que tem uma certa psicodelia”, conta Cassi Abranches, que faz sua estreia como coreógrafa convidada. É a ela, ex-bailarina do grupo, que é dada a abertura para a renovação. Como uma folha de papel em branco, sobre as quais uma nova história começa a ser inscrita, ela recebe, aos poucos, o bastão do coreógrafo residente da companhia, Rodrigo Pederneiras. “Apesar da Cassi trazer uma história que ela construiu aqui dentro, ela escuta a música de uma forma diferente, e isso acaba sendo um exercício para nós bailarinos que precisamos reconhecer essas diferenças e levá-las para o palco”, conta Janaína.
Grupo Corpo
- O quê. Programa duplo, comemorativo dos 40 anos do Grupo Corpo, com “Suíte Branca” e “Dança Sinfônica”
- Quando. De hoje a 9/8. Quarta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h
- Onde. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro)
- Quanto. R$ 90 (inteira) e. R$ 45 (meia)