Pode-se dizer que a trajetória do baiano Lucas Santtana vem sendo construída a partir de dois conceitos principais. Na fundação, encontra-se a canção, ditando a melodia e a harmonia elementares que servem de estrutura para as músicas do compositor. Já num segundo nível está a sonoridade, empregando, a partir de texturas e ambiências, um acabamento através do qual as ideias musicais são reafirmadas – de diversas formas.
Nos seis álbuns que compõe a discografia do guitarrista e vocalista, a canção recebe tratamentos que vão do dub de “Sem Nostalgia”, lançado em 2009, ao estilo mais eletrônico de “Sobre Noites e Dias”, de setembro último. Ambas são naturalmente completares na essência musical de Santtana. No entanto, nada impede que a consciência desses dois elementos possibilite que o artista se desdobre, criando diferentes abordagens para a própria carreira.
Hoje à noite, em show na Casa Una, Lucas Santtana estará, assim, se apresentando sozinho, acompanhado apenas de uma guitarra recheada de efeitos, para deixar aflorar justamente o lado cancioneiro. O repertório, composto por músicas de todos os álbuns, incluíra também canções de sua autoria e que foram gravadas pelas cantoras Marisa Monte e Céu. “É um show solo paralelo à turnê do disco novo, com músicas que não têm espaço no show com banda, que é mais frenético”, conta Santtana, afirmando que tais canções possuem uma essência mais existencial e romântica. “Esta apresentação traz um repertório de minha autoria, mas que não é do naipe de batida, de groove ou de sampler, e, sim, de canção, que diz tudo aquilo a que veio por si”.
MISTURA. O processo de composição de Lucas Santtana também passa pelas etapas de construção da composição e da sonoridade. “Todas as canções eu componho no violão ou no piano, de forma acústica, nua”, conta o músico. “A partir daí, vou trabalhando como vestir essas músicas para chegar a um lugar completo, inteiro”, explica.
Durante os dois primeiros discos, a exata noção do seu trabalho autoral ainda estava pouco clara para o baiano. A partir do terceiro, “3 Sessions in a Greenhouse”, de 2006, as coisas começaram a ficar mais claras. “Foi aí que eu consegui encontrar o meu viés, a característica do meu trabalho, que tem essa coisa da canção popular unida à maneira com que eu construo a sonoridades, as texturas”, pontua. “A cada disco, vou buscando outras sonoridades para reafirmar a mesma coisa. O som, para mim, é tão importante quanto a canção”.
Quanto à maneira de mesclar a tradição da canção brasileira com roupagens de estilos mais contemporâneos como a música eletrônica, Lucas Santtana não vê novidade alguma. Para ele, isso é parte da antropofágica cultura brasileira, que recorre à essência enraizada nas manifestações artísticas e as submete a misturas de formas de tempos e lugares diferentes. “Parece que isso é uma coisa da cultura brasileira. E o que eu faço é isso: assimilar informações que vêm de fora com a canção brasileira. A partir disso, faço meu filtro, meu depoimento”, resume o vocalista e guitarrista.
Em 2015, Lucas Santtana continuará viajando o mundo para apresentar tanto o show mais intimista de hoje à noite quanto as apresentações com banda que integram a turnê de “Sobre Noites e Dias”. A partir do fim de abril, o músico irá excursionar pelo continente europeu e, no segundo semestre, deverá aportar nos Estados Unidos e na Argentina.
Além disso, ele continua participando do projeto “Toca Raul!”, que reúne artistas para apresentações de releituras das músicas de Raul Seixas e deverá render, este ano, um DVD e um EP. Por fim, Santtana ainda prepara trilhas para o documentário “Sobre a Noite Escura da Alma”, que aborda a ditadura militar no Brasil, e “Ultraviolentos”, primeiro longa do diretor Daniel Lisboa. Ambos ainda não possuem datas de lançamento confirmadas.
Serviço
Lucas Santtana, na Casa Una de Cultura (rua Aimorés, 1.451, Lourdes), às 22h. Ingressos gratuitos, distribuídos no local uma hora antes.