A segunda temporada de “3%”, primeira série brasileira da Netflix, traz novos rostos à trama, alguns já velhos conhecidos do público que acompanha a TV aberta. Com cabelos curtos e loiríssimos, Fernanda Vasconcelos, que já protagonizou novelas como “Malhação” (2005) e “A Vida da Gente” (2001), é uma delas. Atores como Maria Flor (“A Lei do Amor”), Laila Garin (“Babilônia”) e Samuel de Assis (“Chico Xavier”) também compõem o elenco.
Além deles, a paranaense Cynthia Senek, 26, também integra a produção. Depois de ter atuado em “Malhação”, ela faz sua estreia no serviço de streaming com a personagem Glória, moradora do Continente que sonha em ir para o Maralto.
“Ela entra no processo acreditando que a vida no Maralto é melhor, o que é óbvio, pois ela mora em um lugar defasado e sem expectativa de vida. A Glória tem um grande conflito, porque é melhor amiga do Fernando (Miguel Gomes), mas ele volta completamente descrente do processo, enquanto ela defende a seleção”, comenta Cynthia. “A Glória passou por inúmeros traumas e os enfrenta para conseguir o sonho de ter uma vida melhor. Seu maior problema será derrubar os medos”, diz.
A atriz conta ainda que o tempo de construção do personagem é o que mais diferencia os dois tipos de produções. “Na TV, infelizmente, não temos muito tempo para construir um personagem. Às vezes, temos que gravar uma cena em 15 minutos. Já para gravar a série, temos um tempo incrível, em que podemos nos concentrar, e as cenas podem ser feitas com mais cuidado”, observa.
Seriado supera estilo videogame
São Paulo. Se o sucesso da primeira temporada rendeu a “3%” mais dez episódios, é tranquilo apostar em uma terceira. A segunda fornada saiu melhor em diversos aspectos, a exemplo do ritmo da narrativa. Talvez a equipe tenha aprendido a contar melhor a história em formato longo, de quase dez horas. O segundo ano de “3%” escapa do caráter cíclico da temporada anterior. Antes, era um tanto repetitiva a sucessão de desafios impostos aos garotos pobres que tentavam mostrar seu valor para viver no Maralto, com a elite da sociedade distópica.
Além de dar à trama um jeitão de enredo adaptado de game, essa repetição o aproximava bastante de franquias bem-sucedidas como “Jogos Vorazes” e “Maze Runner”. Agora, Michele (Bianca Comparato) vive no Maralto e ali vai questionar o funcionamento desse tecido social quebrado proposto pelo roteiro. Enquanto isso, a trama segue com o desejo de revolta entre os miseráveis, no Continente, e novidades no elenco. O Processo 105, novo ritual de seleção que se aproxima, ganha ares misteriosos. A Causa, movimento rebelde contrário à peneira social, está definida de maneira mais clara como célula subversiva. Há mais confiança na produção.
Experiência e provavelmente mais dinheiro fazem a diferença: desde o apuro visual de cenários e figurino até o bom desempenho do elenco. Menos juvenil, mas ainda bom entretenimento, o segundo ano dá espaço para discutir questões econômicas envoltas na ruptura social entre o Maralto e o Continente. (Thales de Menezes)