Conhecida em sua terra natal pelo público metaleiro, a banda a mineira Eminence fará, em setembro deste ano, sua primeira turnê pelos Estados Unidos, para promover o quinto título de sua discografia, previsto para o segundo semestre. A excursão norte-americana vai engrossar um currículo que, ao longo de mais de 20 anos de trajetória, já registra 14 turnês europeias, shows em China, Japão, Nova Zelândia e países da América Latina quatro discos lançados internacionalmente, com a chancela de selos estrangeiros e produção assinada por gente que trabalha com os grandes nomes do heavy metal mundial. “O foco nosso é mais o exterior mesmo”, admite o guitarrista e fundador do grupo, Alan Wallace, acrescentando que, em Belo Horizonte, o grupo se limita a fazer um ou dois shows por ano.
O Eminence foi criado em 1995, num momento em que o Sepultura já era um sucesso mundial e, ao mesmo tempo, arrefecia o boom do heavy metal em Minas Gerais, capitaneado pela gravadora Cogumelo nos anos 80. Alguns grupos que surgiram no mesmo bojo dos irmãos Cavalera, como Overdose, Multilator, Chakal, Holocausto ou Sarcófago, já haviam ficado pelo caminho. “Todas as bandas de metal que se formaram a partir de meados dos anos 80, impulsionadas pela Cogumelo, estavam acabando. As exceções eram o Sepultura, que fez sucesso, e o Overdose, que ainda tentava seguir na esteira”, diz Wallace, situando o Eminence numa “terceira geração do metal mineiro”. Ele conta que, apesar da retração do mercado para o gênero naquela época, o desejo de tocar motivou a criação da banda. Mesmo a cena não estando mais tão boa quanto tinha sido alguns anos antes, a gente decidiu tocar, mais por diversão mesmo. Nunca imaginei que a gente fosse chegar a esse ponto a que chegamos”, diz.
Ele recorda que o primeiro passo dessa caminhada foi a participação no festival Skol Rock, em 1996, em que o grupo se inscreveu, tocou para 10 mil pessoas no Parque da Gameleira, abrindo um show dos Raimundos, foi classificado na etapa estadual e competiu na nacional. “Ali a gente viu que era possível”, diz o guitarrista. O salto para o mercado internacional aconteceu a partir de 1998, por vias um tanto quanto rocambolescas. “O Mercyful Fate (banda dinamarquesa que fazia muito sucesso no cenário heavy metal da época) veio tocar em Belo Horizonte, e nós fomos convidados para abrir. O produtor responsável deu o calote nos caras, sumiu, e nós, que já tínhamos trocado umas ideias com o empresário da banda, acabamos, naquele momento em que eles estavam desamparados, ajudando com despesas de hotel, transporte, essas coisas”, conta Wallace. “Seis meses depois, esse empresário entrou em contato perguntando se a gente tinha interesse em tocar na Holanda. Ele ajudou com as passagens e o agendamento das datas, e nós acabamos fazendo 11 shows lá, o que é muita coisa, porque é um país pequeno”, completa.
Wallace diz, contudo, que aquele marco na história do grupo representou, também, uma fratura. “Não foi fácil, nenhum de nós falava inglês, e não existia uma tradição de bandas de metal brasileiro circulando pela Europa. Fizemos os shows na sequência, praticamente um dia atrás do outro, num esquema muito puxado, de viver a banda 100%, e o que aconteceu foi que todos os integrantes saíram depois dessa turnê, porque viram que não era aquilo que queriam da vida. Tive que recrutar outros músicos”, diz, acrescentando que a atual formação, com Andre Marcio (bateria), Davidson Mainart (baixo) e Bruno Paraguay (vocal), já dura nove anos.
Wallace conta que, com a banda refeita e o caminho para além das fronteiras do Brasil devidamente trilhado, o Eminence passou a andar com as próprias pernas e rodou o mundo. “Já tocamos na Europa Ocidental quase toda, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Polônia, onde fomos uma das atrações principais da edição do festival Woodstock que teve lá. Também já fomos para Japão, Nova Zelândia, China. Participamos, ainda, de dois festivais nos Estados Unidos, o College Music Jam, em Nova York, e duas vezes no South by Southwest, em Austin, no Texas”, diz, destacando como momentos marcantes dessa trajetória internacional o show que fizeram na Colômbia em 1999, no festival Rock al Parque, gratuito e ao ar livre, para um público de 100 mil pessoas, e a apresentação na China, “porque lá é tudo muito diferente”.
Com um pacote de novas composições praticamente fechado, o Eminence mira, agora, o novo disco e a inédita turnê norte-americana. “A ideia é lançar um EP, com no máximo cinco músicas e cinco clipes, porque a música hoje é mais assistida do que ouvida. Se a gente não trabalhar a parte de imagem também, a gente não sobrevive no mercado. Esse EP a gente vai produzir com o Tue Madsen (dinamarquês que já assinou trabalhos de bandas como Dark Tranquility e The Haunted, entre outras), com quem fizemos nossos dois últimos álbuns. Ele vem em maio para o Brasil, para trabalhar no nosso estúdio. O disco será lançado no segundo semestre, e a gente sai em turnê em setembro, para fazer Europa e Estados Unidos. A gente fez aqueles dois shows lá nos EUA, o College Music Jam e o South by Southwest, mas agora vai ser a primeira vez em turnê mesmo, passando por várias cidades”, comemora.
Discografia
“Chaotic System”. Lançado no Brasil em 1999, o álbum de estreia do Eminence apresentou ao público um som que transita entre o thrash e o death metal. Em 2001, o álbum ganhou uma edição dinamarquesa. |
“The God of All Mistakes”. O terceiro título do Eminece foi produzido pelo dinamarquês Tue Madsen. O álbum começa a expor mais claramente mudanças no som do grupo, agregando elementos eletrônicos. |