Não faltam críticos que acham estranho um norte-americano ser o biógrafo definitivo de uma das escritoras mais proeminentes do Brasil, mas é inegável que seu trabalho foi responsável por um despertar da atenção dada a Clarice. Por que você acha que foi necessário um estrangeiro para isso acontecer?
Eu não fiz isso – a biografia, para o Brasil, eu fiz para fora. No Brasil, ela já tem livros, tem peças de teatro, na TV se fala dela. Foi só depois que descobri que eu era o primeiro estrangeiro a fazer uma biografia de um escritor brasileiro. Para fazer chegar Clarice ao Brasil, os brasileiros são suficientes; para fora, é preciso um estrangeiro. Eu consegui esse espaço para divulgar o trabalho dela além das fronteiras da terra dela. A repercussão disso no Brasil é que foi uma coisa demais. Não esperava. Foi uma surpresa os brasileiros reagirem com tanto carinho e tanta gentileza ao meu trabalho. Acho que é curioso ver essa escritora, que as pessoas leram para o vestibular, ser tão querida em todo o mundo. E vão reler, escrever sobre ela. Clarice saiu para voltar.
Quando a editora Cosac Naify (que publicou a biografia “Clarice,” no Brasil) fechou as portas, você disse que não conseguia ver o lado bom disso. Agora, que já se passaram alguns meses, como você avalia o fim da editora?
Olha, eu acho uma tristeza para o Brasil. Para mim, é triste porque eu era amigo de muitos funcionários, do Charles Cosac. Eles publicavam muita gente muito maluca, que não tinha nada de comercial, mas eram livros necessários, e essa gente ficou sem editora. Eu não dependo do Brasil para os meus livros, eu publico em inglês. E no Brasil meus livros vendem. A biografia (com fechamento da Cosac Naify) foi para a Companhia das Letras. O livro vai ser relançado sem problemas. Mas eu acho triste. Não é pessoal, é pela cultura brasileira. Eu gostava deles, do capricho deles, da elegância deles. Era uma coisa de primeira.
A biografia vai ser relançada pela Companhia das Letras, “Todos os Contos” sai pela Rocco…
E tem um livro que eu vou lançar na Flip, que é curto, se chama “Autoimperialismo” e é de ensaios sobre as cidades brasileiras. Esse livro sai por uma terceira editora, a Planeta de Livros. Mas isso são as circunstâncias das coisas. No fim das contas, o leitor não sabe muito das editoras. Para o leitor é importante o livro estar aí.
E sua próxima biografada é Susan Sontag, uma mulher muito diferente de Clarice Lispector.
A Clarice era uma pessoa absolutamente genial artisticamente. Intelectualmente, ela não tinha o interesse que tinha Susan. Mas Susan não tinha o lado artístico. Clarice era, de certa forma, o que Susan queria ser. Susan era uma grande personalidade. Eu amava a Clarice (ao escrever), mas não amo a Susan da mesma forma, porque ela era muito difícil. Mas eu admiro Susan muito. É uma admiração como a duas pessoas da mesma família… Mas a comparação é um pouco injusta. As duas tiveram uma coisa que a outra não tinha.
E a quantas anda a biografia de Sontag?
Eu viajei por tantos países por causa disso, estou no quinto ano de trabalho, acho que vou terminar ainda neste ano. Vou fazer umas viagens, vou inclusive levar a Clarice para a Palestina, e estarei na Flip. Mas acho que, se puder trabalhar durante dois meses, vou chegar no fim. Parece inacreditável que termine esse livro. É um trabalho árduo, é uma vida imensa. Eu tenho saudades desse livro já. Mas tive saudade de Clarice quando terminei, e deu no que deu.