A ancestralidade da música negra brasileira sobe ao palco com o show da banda Berimbrown, nesta terça, no Conservatório da UFMG. Em trabalho de composição de seu novo álbum, “Lamparina”, os músicos usam a imagem desse objeto para evocar uma série de elementos culturais. “Já faz muitos anos que eu tenho uma vivência nas comunidades quilombolas de Minas Gerais. E as lamparinas, em muitas delas, são usadas até hoje”, aponta Mestre Nego Ativo, líder e remanescente da primeira formação do Berimbrown.
Com um repertório que enfatiza e reconsidera a trajetória dos trabalhadores historicamente situados à margem da sociedade, as letras tratam desde um passado de trabalho forçado nos garimpos ate o domínio do capital financeiro na contemporaneidade. “Quando pensamos nas comunidades antigas, como os quilombolas, percebemos os efeitos perversos que a globalização tem, esse enfrentamento entre o tradicional e o moderno”, avalia.
Leitor do geógrafo Milton Santos, o músico diz se inspirar na ideia de que “uma outra globalização seja possível” e ela partiria justamente dos mais pobres. “Milton Santos é um pensador da cultura urbana. Ele vai apontar que a globalização é uma fábula que nos é apresentada de maneira muito bonita, mas que, na verdade, ela é perversa, principalmente com os mais pobres. São aqueles que não se encaixam, chamados de ‘Homens Lentos’ – sujeitos da periferia, que não seguem os parâmetros impostos de fora”, avalia.
O Berimbrown, ao longo de sua trajetória de 18 anos, construiu um repertório que flerta com elementos atuais e urbanos sem deixar de lado a tradição de ritmos africanos. “O soul, o hip hop, dub, raggamuffin’ só existem por conta dessa ancestralidade do tambor”, sinaliza Nego Ativo.
No show de logo mais eles tocam músicas conhecidas do público, como “Black Brother”, e outras, inéditas, como “Besouro”, “Pacificação Militar” e “Servidão Moderna”. “Falamos desse movimento das favelas pacíficas do Rio de Janeiro e dessa ideia do sujeito servo de sua própria rotina”. Além dessas novidades, a banda toca também as novas “Fuzuê” e “Globalização”.
Agenda
O quê. Berimbrown
Quando. Nesta terça, às 20h
Onde. Conservatório da UFMG (avenida Afonso Pena, 1.534, centro)
Quanto. Gratuito