Muito pouco ainda se sabe sobre a verve filosófica e o pensamento panteísta (crença de que Deus e todo o universo são um a única coisa) do ex-governador de Minas Gerais, Augusto de Lima (1859-1934).
"Lima está entre os pensadores deste país que se ergueram acima do estreito imediatismo das preocupações pessoais para examinar com um olhar solidário aquilo que é eterno. Talvez ele seja o único poeta brasileiro cuja obra tem uma quantidade apreciável de poemas com profundo valor filosófico e esotérico", explica Carlos Cardoso Aveline, jornalista, editor do website www.filosofiaesoterica.com e estudioso da obra do político.
Defensor intransigente das florestas e pai do Código Florestal Brasileiro, "o pensamento ético e panteísta deste poeta-cidadão contrariou os dogmas da religiosidade tradicional. Os interesses dominantes, ameaçados, podem ter provocado um cômodo esquecimento da sua obra. Seus livros são, hoje, raras preciosidades bibliográficas e a qualquer momento pode renascer um amplo interesse em torno deles", diz Aveline.
O jornalista comenta que a obra de Lima está voltada para o futuro e se identifica com o universo. "Seus melhores poemas são imperecíveis e têm inúmeros pontos em comum com a teosofia ou sabedoria divina ensinada por Helena Blavatsky. Um exemplo disso, entre muitos, é a abordagem austera da luta que se trava na alma humana".
E nosso ex-governador trilhou os mesmos caminhos percorridos pelos estudantes de teosofia, "reconhecendo um contraste em seu próprio mundo interno". "De um lado ele tem sua alma mortal, o eu inferior, com seus interesses pessoais de curto prazo. De outro lado, está a alma imortal, o eu superior, com uma visão muito maior e mais ampla da vida e do universo. O poeta examina essa incômoda dualidade básica no poema O Paradoxo, e ele não usa meias palavras", assegura o jornalista.
"Quem pôde jamais dizer-me com certeza de onde vim, se sou simplesmente um verme, ou se Deus está em mim? Mistério! A vida, eu a sinto como um fluído incandescente nas veias; porém não minto dizendo que a acho excelente (...) Mata-me o tédio do mundo e nisto encontro prazer. Como Hamlet meditabundo, agito o ser e não ser. Sou uma antítese viva, talvez um sonho do caos, extrato que Javé ou Shiva fez dos gênios bons e maus. (...) É que ardem, no paraíso, infernos; engana o amor; o lábio mente e o sorriso é uma paródia da dor", diz Lima em "Poesias".
Aveline considera que a solução do paradoxo está em voltar o olhar para o alto e transferir o foco da consciência da periferia da vida para a sua essência. "O primeiro passo, no entanto, será perceber de fato o caráter passageiro da vida superficial e renunciar a ela. Essa lição é aprendida examinando o mistério da passagem do tempo e descobrindo que, na verdade, o tempo é eterno, e os seres mortais é que passam por ele".
A jornalista escreve neste espaço às terças-feiras. anadiniz@terra.com.br
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Os poemas de Augusto de Lima, o poeta do universo
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