Tim Burton é idolatrado por muitos, mas também tem detratores. Para alguns, seus filmes são apenas um visual extravagante criado a partir de uma história fantasiosa, sem brilho nos roteiros ou na direção de atores. Para quem pensa assim, “Alice Através do Espelho” é um exemplo perfeito. Burton produz o longa, mas não assina a direção desta continuação de seu “Alice no País das Maravilhas”, de 2010.
Será que isso faz diferença? O diretor, James Bobin, mais ligado a programas de TV, não deixa nenhuma impressão digital no trabalho. Mais do que uma sequência, o filme parece uma prorrogação do original. Os mesmos personagens e atores, o mesmo visual coloridíssimo que começa a cansar depois de meia hora de exibição, a mesma sucessão de cenas sem ganchos dramáticos. Um festival de firulas sem personalidade.
Mais uma vez, a turminha favorita de Burton atua fora de qualquer controle. Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, o mesmo trio que o cineasta reuniu no muito bom “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (2007), compete para resolver qual deles é o mais grandiloquente na tela.
Rostinhos bonitos na trama, Mia Wasikowska como Alice e Anne Hathaway no papel de Mirana são esforçadas, mas lembram duas estudantes querendo caprichar na peça de teatro da escola. Mia já foi um problema sério no primeiro “Alice”. Falta à atriz australiana presença mais forte em cena para segurar o papel principal numa história quase épica como a aventura juvenil (ou não?) dos livros de Lewis Carroll.
A discussão não se refere a analisar se o roteiro consegue aproveitar bem o livro – não, ele não consegue – ou descobrir se o filme é bom ou ruim – sim, ele é ruim. Antes de tudo, fica evidente que não precisava ter sido feito. “Alice Através do Espelho” só tem a mostrar um deslumbrante conceito gráfico, mas já apresentado no filme anterior. Rever “Alice no País das Maravilhas” é mais compensador.