“Liberdade! Liberdade! Abra as asas sobre nós”. Os versos cantarolados pelo ator e dramaturgo João das Neves foram acompanhadas pelas vozes de centenas de pessoas que lotaram as plateias 1 e 2 do Grande Teatro do Palácio das Artes na noite desta terça-feira. Atores, diretores de teatro, parlamentares, autoridades e amantes da arte em geral endossaram o coro de João pela democracia. Todos eles engajados em um ato de convocação feito pela Frente Nacional Contra a Censura.
Programada para as 18h, a manifestação começou com uma hora de atraso. Uma solenidade que contou com várias personalidades do alto escalão, como o presidente da Fundação Clóvis Salgado, Augusto Nunes, o secretário municipal da cultura de Belo Horizonte, Juca Ferreira, e Luiz Bernardes, pai do falecido artista Pedro Moraleida. Eles deram o pontapé inicial do ato, que festejava a permanência da exposição de Moraleida até o domingo passado. Em seguida, foi lido o manifesto feito pela frente.
“Estamos aqui hoje (terça-feira) para comemorar uma vitória expressiva sobre forças obscuras. Apesar de ser a primeira vitória, nós não vencemos ainda a guerra. Mas ela mostra que é possível vencer essas forças. A história da humanidade não caminha para as trevas. Essa vitória abre novas perspectivas para todos nós”, declarou Bernardes, que criticou, de forma veemente, ações contra a exposição de seu filho, e alfinetando diretamente o deputado estadual João Leite (PSDB). “Ele (João Leite) tentou fazer uma palhaçada”, completou.
Augusto Nunes, presidente da Fundação Clóvis Salgado, aproveitou a deixa para agradecer a vigília feita em prol da exposição de Pedro Moraleida. “Nesse ato da Frente Nacional Contra a Censura, a gente agradece e parabeniza o apoio sistemático de muitos de vocês, dessa resistência”, sintetizou.
O secretário municipal da Cultura de Belo Horizonte, Juca Ferreira, também exaltou o triunfo. “Minas Gerais se coloca à frente dessa resistência em todo o Brasil. É muito relevante que muitos artistas brasileiros de todas as áreas de criação tenham se solidarizado a esse ato e são favoráveis à criação dessa frente, horizontal, plural e complexa, onde todos que são a favor da democracia podem participar. Vamos vencer a reação daqueles que tentam sequestrar os direitos conquistados pelo povo brasileiro. Vamos em frente que nós venceremos”, afirmou.
Engajados. Vários artistas de Minas Gerais, das mais distintas áreas, dentre elas teatro, dança, música e blocos de carnaval, além de grupos favoráveis a partidos de esquerda, estavam presentes na solenidade. O ator, diretor e produtor de teatro Munish reforçou a importância de atos assim.
“Era uma necessidade fazer essa Frente Nacional Contra a Censura. E vem sendo muito importante ter o apoio de tantos artistas, como Caetano Veloso, Chico Buarque e Criolo. Temos recebido também vídeos de artistas brasileiros que estão morando no exterior”, comentou ele, que explicou o motivo de a solenidade ter acontecido dentro do teatro: “Foi por conta do risco de chuva”.
Grupos de esquerda também marcaram presença. O Coletivo Alvorada organizou, do lado de fora, a Tenda da Democracia, em que vendia vários artigos com dizeres “Fora, Temer” e “Temer Jamais”, como camisas, bottons e panos de chão. “Em todos os atos a gente tenta contribuir de alguma forma. Militância não tem tempo, não tem sol ou chuva ou distância”, ressaltou a economista e membro do coletivo Maria Neuza Costa.