Nada será como antes

Após quatro adiamentos, Comida di Buteco começa nesta sexta-feira (30)

Concurso acontece em formato híbrido e com o objetivo de reerguer os donos dos bares que foram atingidos pela pandemia

Por Lorena K. Martins
Publicado em 30 de julho de 2021 | 06:00
 
 
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Rotulada como a capital dos bares, Belo Horizonte é o lugar certo para quem gosta de se sentar em um boteco com os amigos, pedir um tira-gosto ou tomar um gole de cerveja bem gelada, de preferência ali, no balcão, junto ao dono, enquanto troca casos quase intermináveis e, alguns, até confidenciais. É justamente essa a alma que o “boteco raiz” é capaz de proporcionar para quem o frequenta – e também uma das atividades que boa parte dos comensais sentiu falta durante a pandemia do coronavírus, principalmente para os frequentadores do Comida di Buteco.

Quatro adiamentos depois, finalmente o concurso para quem ama “botecar” começa hoje e segue até o dia 29 de agosto. Nesse período, visitantes e jurados vão votar nos melhores pratos. A limpeza do ambiente, o atendimento e a temperatura das bebidas também serão avaliados.

Como a pandemia ainda não deu trégua, a solução encontrada pelos organizadores do concurso foi apostar em um modelo híbrido, com a recepção nos bares seguindo as regras de distanciamento e protocolos de segurança e também com petiscos que possam viajar bem no delivery, como o Ôxe Mainha, elaborado por Diogo Medeiros, do Canto de Mainha, bar inaugurado há três anos em BH, no bairro Buritis, e um dos estreantes no concurso ao lado do Planeta Lúpulo, que criou o Raiz de Lúpulo – feito com mil-folhas de mandioca com lombo suíno defumado e geleia de beterraba.

A 21ª edição terá como tema a cozinha de raiz: os petiscos concorrentes terão que usar na composição ingredientes como batata, beterraba e cenoura, por exemplo. Tanto estreantes quanto vencedores e participantes de outras edições do Comida di Buteco encaram o tema como um grande desafio para inovar e se destacar para ganhar a disputa. “O tema deste ano caiu como uma luva pra gente”, disse o pernambucano Diogo Medeiros, que criou o tira-gosto de inhame rosti com vinagrete de feijão fradinho.

“Batata doce, macaxeira, inhame e outras raízes já fazem parte da típica culinária nordestina. Além disso, o petisco é simples de ser armazenado para mandar para a casa do cliente”, explica ele, confiante com a estreia. “Minha esposa é mineira, e ela sempre ia aos bares participantes do concurso, como cliente. Vejo que é uma oportunidade do bar aparecer para pessoas que ainda não o conhecem”, emenda.

De acordo com a diretora de operações e uma das fundadoras do Comida di Buteco, Maria Eulália Araújo, o retorno do concurso também tem como objetivo reerguer os donos dos estabelecimentos, que foram duramente atingidos na pandemia com o movimento Salve os Botecos, “para levar ao público e aos parceiros várias alternativas para contribuírem, trazendo não apenas faturamento adicional aos botecos, mas também força e pensamento positivo para a recuperação”, explica.

A meta do Comida di Buteco é arrecadar R$ 3 milhões entre julho e agosto e dividir igualmente entre os butecos participantes do concurso. O acompanhamento das doações será por meio do “butecômetro” no site oficial do concurso.

Com a pandemia, Eulália disse que o concurso tem orientado cada boteco participante a cumprir rigorosamente as regras definidas e limitar o atendimento à capacidade permitida no estabelecimento. “Não queremos promover a ida ao boteco. Neste momento, tudo é preciso ser feito de forma consciente, segura e cooperativa”, frisa a organizadora.

Visibilidade

Mesmo para quem é veterano do concurso, como Leonardo Bastos, do Buteco’s Bar, nada será como antes. É o oitavo ano em que ele participa do Comida di Buteco e garante que, mesmo sem ter ganhado o concurso ao longo desses anos, o objetivo maior é a visibilidade do estabelecimento e o desafio de criar um prato sob o tema selecionado.

“A cada ano fica difícil se reinventar para chamar atenção do público e instigar as pessoas a virem e conhecer o seu prato. É um ano inteiro pensando no próximo prato”, disse Bastos, que preparou para esta edição o Boi Baroa: bife de chorizo serenado com creme de mandioquinha baroa, alho, gengibre e manteiga de garrafa acompanhado de flor de cebola roxa caramelizada e abóbora rústica. 

“Achei que o prato tinha tudo a ver com esse tema, de resgate à mineiridade e da raiz do tira-gosto antigo e simples. Não existe boteco sem mandioca, cebola e batata, né? São várias raízes que usamos, que estão no nosso dia a dia e que a gente precisa usar de maneiras diferentes”, acredita ele.

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