Teatro

Teuda Bara estreia "Luta", sua peça solo

Primeiro solo da atriz, conhecida pela sua trajetória no Galpão, repassa momentos marcantes de sua carreira

Por Patrícia Cassese
Publicado em 17 de julho de 2019 | 03:00
 
 
 
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“Olha, eu estava nervosa, mas, quer saber? Agora estou chutando o balde. Estou entregando mesmo”, diz Teuda Bara, aos risos, referindo-se à estreia, nesta sexta-feira, de “Luta”, seu primeiro espetáculo solo. Ou melhor, quase solo. “Na verdade, não estou sozinha. Eles estão ali, do meu lado”, conta, incluindo, na empreitada, João Santos, Marina Viana e Cléo Magalhães, trio que responde pela estrutura dramatúrgica coletiva e pela direção da iniciativa, que ocupa o palco do Teatro de Bolso do Sesc Palladium a partir da sexta-feira, e até o dia 28.

A resistência inicial de Teuda a embarcar nessa aventura tem a ver com o cerne do projeto, cuja ideia veio de um comentário feito em 2015 pela colega e amiga Cida Falabella numa mesa de bar, após uma apresentação de “Doida”, peça que Teuda encenou ao lado do filho. “Ela perguntou por que não levávamos o conteúdo do meu livro (‘Teuda Bara: Comunista Demais para Ser Chacrete’) aos palcos”, rememora João Santos, autor da biografia. 

Lançada em 2011, a obra coloca em repasse a carreira da atriz – trajetória que, vale lembrar, está umbilicalmente ligada ao Grupo Galpão, do qual é uma das fundadoras. O perfil biográfico deu início a uma sólida amizade entre as duas partes, que, num segundo momento, desaguou em “Doida”, em que Santos assinava a dramaturgia. No início deste ano, ao se encontrarem para ensejar um novo projeto a dois, a provocação de Cida foi retomada. Mas justamente por ter como lastro um material biográfico, Teuda confessa ter sentido certo desconforto. Um medo de se expor além do prudente. “Fiquei assustada mesmo”, admite ela.

“À época, a Teuda fez um comentário que virou piada entre a gente e até foi incorporado ao espetáculo. Questionou se falar de si mesma num palco não seria uma coisa meio Dercy Gonçalves”, diverte-se João Santos, que, porém, entendeu perfeitamente o receio da amiga. “Hoje, fala-se muito em teatro documentário, biográfico, e a Dercy fez isso a vida inteira com desenvoltura. Mas, com a observação da Teuda, a gente começou a trabalhar o projeto a partir de uma alegoria: a da luta. O texto baseia-se nas histórias dela, mas nada de ‘Ah, eu sou Teuda, nasci em BH’”, explica.

O insight “luta”, vale dizer, veio ao acaso, quando, deitado na cama, pensando nos novos rumos a dar ao espetáculo, Santos viu seu olhar recair em uma máscara de luta livre que orna seu quarto. Luta que simbolicamente todos nós travamos na vida, no dia a dia. O item, aliás, foi incorporado ao figurino da peça, que, diga-se, de início pareceu a Teuda Bara um tanto quanto “escandaloso”: um maiô combinado a adereços como meia arrastão e penachos e com sapatos que remetem ao universo clown.

Sem deixar de perpassar a situação da cultura atual no país, “Luta” é, segundo sua protagonista, “uma peça também bem-humorada”. “Eu conto histórias, como as de ter estudado em colégio de freiras ou da minha passagem pelo Cirque du Soleil, essas coisas. E, logicamente, as do Galpão”. Tudo com o auxílio luxuoso de projeções. Feliz, Teuda costuma dizer que o palco do novo espetáculo é o seu “novo cafofo”.

Marina Viana acrescenta: “Acho que a peça são várias visões sobre Teuda. Ela pelo João, por mim, por Cléo, por Barulhista, que fez a trilha original... e, claro, Teuda por Teuda. Histórias incríveis de um mulher incrível, que merecem ser valorizadas e contadas”. Cléo Magalhães arremata: “É uma grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma honra enorme ajudar a contar as histórias de uma mulher maravilhosa como a Teuda. A peça tem essa metáfora com o exercício diário do artista, que é o de luta. E decidimos trazê-la para o palco, assumi-la, descobrindo o jogo que poderíamos fazer com ela para resultar em um processo leve e divertido, e não pesado e sofrido”.

Em tempo: Teuda participa da Virada Cultural com a performance “Se a Vida Tiver Limão”. No domingo, às 11h, ela vai vender limões num semáforo da rua Guaicurus próximo ao local onde ficava o mural homenageando a atriz, obra do coletivo Minas de Minas para os 120 anos de BH, e que foi tapado no início de junho. “Não vou protestar por ser a minha imagem, mas por ser um trabalho artístico – e, vá lá, porque sou chata, achei desrespeitoso”. Numa segunda etapa, noturna (horário não informado), Teuda usará o dinheiro angariado para comprar cachaça e distribuí-la. 

Onde. Teatro de Bolso do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). 
Quando. De 19 a 28 deste mês, às sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h.
Ingressos à venda na bilheteria do teatro ou online.
Preço. R$15, inteira. Informações: 3270-8100.
Duração: 60 minutos 

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