Um crime ambiental no meio do caminho

Sexta-feira, 25 de janeiro de 2019. Era 12h28 quando a terra tremeu em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. A centenas de quilômetros dali, dentro de um carro rumo à Praia da Baleia, no município de São Sebastião, no interior de São Paulo, Julia Castello, 21, vê a notícia em seu celular: a barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, havia se rompido. 

Dias depois, o ímpeto de descobrir trajetórias abaladas pelas toneladas de rejeitos fez com que a então estudante de jornalismo resolvesse fazer do episódio seu trabalho de conclusão de curso. “Sou mineira de Uberaba e me lembrei imediatamente do que aconteceu em Mariana”, diz. Julia aportou na cidade devastada em abril de 2019, três meses depois do tsunami de lama.

Durante oito dias, de manhã até a noite, ela escutou relatos de personagens atingidas pelo rompimento e o resultado extrapolou a monografia e deu origem ao livro “Memórias de Brumadinho: Vidas Que Não se Apagam” (Ed. Autonomia Literária), que será lançado nesta sexta-feira, em Brumadinho, e, no sábado, em Belo Horizonte.

Ao todo, são 18 histórias que saem dos registros oficiais e pretendem revelar o lado humano por trás da barbaridade cometida em Brumadinho. “Escolhi contextos diferentes, desde pessoas que não eram de Brumadinho, até famílias ricas, pobres e de aldeias indígenas. Todos queriam falar sobre o assunto como forma de denúncia, de protesto”, conta a jornalista. 

Neste fim de semana, um ano após o rompimento da barragem ter deixado 270 mortos – dos quais 11 continuam desaparecidos – e causado prejuízos ambientais incalculáveis, Julia voltará a Brumadinho com o coração apertado. “Será um reencontro emocionante, com um sentimento não só de tristeza, mas também de revolta, porque ainda não houve nenhuma punição aos responsáveis”.

Programe-se

“Memórias de Brumadinho: Vidas Que Não se Apagam” será lançado nesta sexta-feira em Brumadinho, às 17h, na sede da Amigos de Brumadinho (rua José da Silva Fernandes, 129, Centro). Já no sábado, em BH, o evento acontece de 14h às 15h30 na Livraria Scriptum (rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi). O livro será vendido a R$ 40.