Estreia do diretor global José Luiz Villamarim no cinema, “Redemoinho” – em cartaz na capital – tem um ótimo elenco, um rigor visual apurado e um início instigante... mas nunca cumpre a promessa da soma desses elementos. A adaptação da obra do escritor mineiro Luiz Ruffato é tensa e cria no espectador uma expectativa, sem nunca realmente lhe entregar essa explosão – se cinema é realmente cachoeira, como dizia Humberto Mauro, a queda d’água nunca chega.
Na trama, Luzimar (Irandhir Santos), gerente de uma fábrica de costura em Cataguazes, reencontra o amigo de infância Gildo (Júlio Andrade), retornando à cidade após partir para São Paulo. A reunião, na véspera de Natal, acaba trazendo à tona os ressentimentos e a culpa de um passado mal resolvido.
O problema é que esse redemoinho do título só chega no final do filme. Até ali, o longa é carregado por Santos – monstruoso, como de costume, e com um sotaque mineiro impecável – e Andrade, que sofre com um personagem pouco sutil, histriônico demais e que explicita o subtexto do filme o tempo todo.
Visualmente, Villamarim constrói um trabalho competente, mantendo os protagonistas à distância no início, e só se aproximando à medida que o espectador os conhece melhor. Além disso, “Redemoinho” faz uso de metáforas visuais interessantes, como a ponte dos flashbacks – de um lado, os garotos têm uma vida e, ao atravessá-la, terão outra – e o trem, como imagem da vida amaldiçoada dos personagens, presos a um trilho de arrependimento, em contraste com a bicicleta de Luzimar e o carro de Gildo, que dizem muito sobre quem é cada um deles.
Santos e Andrade são acompanhados pelo ótimo e sutil trabalho de Cássia Kis Magro, como a mãe de Gildo, e Dira Paes, fazendo seu melhor com o ingrato papel da esposa preocupada no telefone. O desdobramento da história paralela da personagem dela no terceiro ato, por sinal, é o ponto mais fraco e desnecessário do roteiro. Não é uma estreia perfeita, mas deixa a vontade de ver o que mais Villamarim tem a oferecer na telona.
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Uma tempestade que demora demais
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