Emprego

A moda dos recrutadores é selecionar às cegas

Contratação de estagiários e trainees ignora gênero, cor, idade, região e faculdade do candidato

Por Rafaela Mansur
Publicado em 18 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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A temporada de recrutamento para programas de estágio e trainee está aberta, e desta vez com foco na diversidade. Muitas empresas estão utilizando o método de seleção às cegas, no qual gênero, cor, idade, região e faculdade do candidato são desconhecidos nas primeiras etapas do processo, de forma a não influenciar na escolha.

O objetivo é um recrutamento sem preconceitos, em que o comportamento e os valores do profissional são mais importantes. Para quem conquista a vaga, os benefícios incluem, além do vale-transporte e do plano de saúde, a academia, clube de descontos e participação nos lucros, dependendo da firma.

No programa de trainee do Magazine Luiza, informações como experiência anterior, cursos e instituições frequentadas não são exigidas até as etapas presenciais.

“Pretendemos tirar todo viés que, infelizmente, está embutido nas pessoas. Há uma flexibilização de critérios porque, em regra, programas de trainee têm exigências limitadoras que eliminam muita gente. Nosso foco são pessoas com maior aderência comportamental ao Magazine Luiza”, afirma a diretora de gestão de pessoas da empresa, Patrícia Pugas. “Conhecimento, elas adquirem”, completa.

No Grupo Cataratas, que administra a visitação a locais como as Cataratas do Iguaçu (PR), os recrutadores também não têm acesso ao rosto e a outras informações do candidato nas primeiras etapas do programa de trainee.

O objetivo é valorizar as habilidades em vez do conteúdo curricular, reduzir preconceitos e promover a diversidade. “Acima de tudo, valorizamos o brilho nos olhos e a vontade de gerar impacto positivo”, diz o gestor da área de gente, cultura e carreiras do grupo, Robson Lourenço. Os salários oferecidos vão até R$ 6.000.

Estágio

O programa de estágio 2020 da Danone também está com um processo de seleção que exclui critérios como idade e instituição de ensino.

Um chatbot (ferramenta de conversas automatizadas), desenvolvido em parceria com a 99jobs, acompanha os candidatos nos testes técnicos e comportamentais, ajudando a identificar os mais sintonizados com o perfil da empresa.

“Temos trabalhado muito a questão de diversidade e inclusão na Danone, para termos um ambiente onde todo mundo se sinta à vontade e que gere inovação”, pontua a gerente de talentos Andrea Zitune.

Segundo Andrea, a empresa busca cinco comportamentos nos estagiários: coragem com empatia, agilidade, autoconhecimento, determinação e colaboração.

Cerca de 30 vagas estão sendo oferecidas, sendo aproximadamente dez em Poços de Caldas, no Sul de Minas. O índice de efetivação dos estagiários na companhia gira em torno de 80%.

A PepsiCo também está com inscrições abertas para o programa de estágio de olho na diversidade. Além do processo seletivo às cegas, houve flexibilização da exigência de inglês para 80% das vagas.

“O que realmente importa é o talento e o jeito único de cada um e o que isso pode acrescentar no dia a dia. Buscamos atrair competências e experiências de vida diversas”, afirma o vice-presidente de recursos humanos da PepsiCo Brasil, Maurício Pordomingo.

A empresa está oferecendo 25 vagas em diferentes regiões do país. “Ter diversidade no quadro de funcionários nos ajuda a entender os consumidores e a sociedade. É assim que ganhamos criatividade e produtividade e conseguimos inovar”, conclui.

Posturas pessoais são mais valorizadas

A postura e as competências comportamentais são muito valorizadas pelas empresas na hora de contratar, segundo o professor do Uni-BH Felipe Gouvêa Pena, especialista em gestão de pessoas e psicologia organizacional.

Ele destaca algumas das habilidades exigidas dos profissionais atualmente, listadas no relatório do Fórum Econômico Mundial, como a resolução de problemas complexos e o pensamento crítico.

“O terceiro ponto é a inteligência emocional, pensar que é possível passar por uma crise mantendo a serenidade e observando oportunidades de crescimento. O quarto é a orientação para servir, estar apto a ajudar o outro”, diz Pena. Ele ressalta a importância de os profissionais buscarem empresas com valores compatíveis com o próprio propósito.

Breno Dutra, 32, foi selecionado como trainee da VLI e, após concluir o programa, em 2013, foi efetivado como engenheiro de planejamento. Hoje, atua como gerente da área de planejamento de longo prazo.

“Para mim, o trainee é a melhor porta de entrada do emprego. É uma das mais difíceis e concorridas, mas é a que mais dá chance de crescer e ter a carreira acelerada”, diz Dutra.

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