MÚSICA

Família faz campanha para fã quase centenária conhecer Andrea Bocelli

Religiosamente todos os dias, Dolores Bicalho assiste a concertos do tenor italiano, que se apresenta em BH no dia 17 de maio

Por Alex Bessas
Publicado em 10 de maio de 2024 | 07:00
 
 
 
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Mãe de 11 filhos, avó de 22 netos e bisavó de 29 bisnetos. Prestes a completar 100 anos, Dolores Bicalho vive a expectativa de realizar um sonho: ver o tenor italiano Andrea Bocelli de pertinho. A notícia da realização do show no Mineirão, no próximo dia 17, acalenta o seu coração. Mas a família quer mais: um presente antecipado – o aniversário redondo é no dia 1º de julho – em que “Vó Dorita” possa conhecer pessoalmente o ídolo.

Quando recebeu a reportagem de O TEMPO, a casa localizada no bairro Sagrada Família, na zona leste de Belo Horizonte, estava cheia. Um dos familiares pergunta, em voz alta, qual seria para ela a grande realização dessa parte de sua vida, a ex-costureira não titubeia: “É ver o Bocelli!”, diz, em um rompante. Alternando momentos de timidez, optando por frases curtas, com lampejos carismáticos, ela agia como uma extrovertida maestrina, capaz de conduzir um auditório atento. 

Ela se orgulha de já ter visto e revisto todas as gravações de apresentações de Bocelli disponíveis no YouTube, possuindo também CDs e DVDs, além de um livro biográfico do artista, intitulado “A Música do Silêncio”. Fã incondicional, Dolores diz não conseguir nomear muito bem os sentimentos com os quais convive, a uma semana de presenciar o tão aguardado concerto.

Apesar de ainda ser um sonho, a possibilidade de ficar tête-à-tête com Bocelli a faz imaginar como seria esse momento. A princípio, admite que não saberia o que dizer ao artista. “Eu não teria palavra. Não teria voz”, assinala. 

Para um dos filhos, Genedempsey Bicalho, o encontro poderia dispensar palavras. Um abraço já seria mais do que suficiente para completar um dia memorável. “Deixar de ver 15 mil horas de Bocelli na televisão para vê-lo pessoalmente, já é um sonho realizado. O outro seria esse abraço, que não sabemos se vamos conseguir concretizar”, destaca.

“Queria abraçar, agradecer por tudo”, confirma “Vó Dorita”, atenta ao esforço da família em promover o encontro com o tenor, que se tornou, sem ele saber, um protagonista de várias histórias ocorridas com ela, especialmente nos últimos anos. 

O cantor entrou de vez na rotina da família a partir de meados de 2020, quando a pandemia da Covid-19 exigiu a adoção de uma série de medidas sanitárias, incluindo o isolamento social.

“Foi um período difícil. Minha mãe perdeu uma filha e um filho. Mais do que companhia, as músicas dele serviram de conforto. Ele foi primordial para manter um clima mais ameno, menos carregado”, assinala Genedempsey.

A paixão pelo artista, é preciso dizer, é anterior a esse período de enlutamento. “Me lembro bem de que papai, que começou como sapateiro e depois fez carreira na Polícia Militar, e mamãe gostavam de ouvir esse tipo de gênero musical (música clássica) – o que é muito curioso, porque esse clima cultural que havia em nossa casa estava muito acima daquilo que se pensava para uma família humilde, como a nossa sempre foi”, situa.

“Mesmo que ela já conhecesse e gostasse de ouvir as músicas dele e de outros tenores antes, foi nessa época (da pandemia) que isso ficou mais marcado. Foi a partir do momento em que todo mundo ficou preso dentro de casa que assistir aos shows dele tornou-se algo do nosso dia a dia, de maneira que, a qualquer hora que chegávamos em casa, encontrávamos ela em frente à televisão assistindo a algum dos concertos dele”, observa.

“A partir de então, ela queria saber mais sobre como foi a vida dele, fazia várias perguntas, nos obrigando a pesquisar para conseguir respondê-la”, comenta o filho de Dolores. “Com isso, além de se aproximar da música do Bocelli, ela se aproximou da figura dele, cujo carisma é tão grande quanto o talento. E isso envolveu toda a família, que, por intermédio da nossa mãe, também passou a ser fã do tenor”, estabelece.Dolores assiste concerto de Bocelli na TV

'Corcovado' está entre as canções preferidas

Com filhos, netos e bisnetos passando a gostar das interpretações musicais do italiano, Dolores acha até difícil apontar alguma música que desponte como a favorita. A versão de “Corcovado”, uma composição de Antônio Carlos Jobim de 1960, que Bocelli canta ao lado de Sandy, certamente entra nesse páreo. 
Também é certo que “Amapola”, escrita pelo espanhol José María

Lacalle em 1924, ano de nascimento de Dolores Bicalho, apareça nesse pódio. A canção, aliás, está presente na vida da ex-costureira desde muito antes de o tenor gravá-la. “Eu tive um filho, o meu primeiro filho, que morreu antes de completar 2 anos. Ele cantava ‘Amapola’ inteirinha”, recorda. 

Apesar dessas lembranças tristes, a família hoje está empenhada em realizar o sonho do encontro. “Imagine sonhar aos 99 anos… Nessa altura da vida, ela não desapega das coisas que são importantes para si, das coisas de que ela gosta, como a família e a música. Ela vive, hoje, como se fosse viver mais 100 anos. E acho até que são os sonhos que a fazem ser assim”, reflete Genedempsey.

“Hoje, vovó Dorita se encontra em uma cadeira de rodas, mas nada a impede de seguir seus sonhos e de acreditar que a felicidade se encontra tanto nos pequenos momentos quanto nas grandes produções. A família da vovó Dorita, neste apelo comovente, espera que ela possa se encontrar com seu ídolo como presente de seus 100 anos, a serem completados em 1º de julho”, lê-se na legenda de uma campanha nas redes sociais para tentar comover a equipe do cantor.

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