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Almério lança álbum com participação de Maria Bethânia e música na novela

Artista pernambucano interpreta, com a diva da MPB, a balada “Quero Você, parceria com Isabela Moraes que virou trilha de casal apaixonado em “Renascer

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 30 de abril de 2024 | 06:00
 
 
 
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Cássia Eller cantou uma canção inteira para Almério. Adriana Calcanhotto não deixou barato e repetiu a dose. Ao acordar, o pernambucano colocou tudo no papel, transformando os sonhos em realidade. “É quase uma mediunidade”, afirma o cantor sobre seu processo de composição, pelo qual tem “cada vez mais respeito”. “O subconsciente é um campo vasto, e, à medida que você cria essa intimidade, vai se tornando um exercício complexo. Tenho muito respeito pelo meu ofício de artista, sou totalmente comprometido com o que faço”, assegura Almério. Ele acaba de colocar na praça “Nesse Exato Momento”, celebração a duas décadas de carreira, e que ele considera seu “disco mais importante”. “É o trabalho que mais me representa”, destaca.

Composta por Zélia Duncan e Juliano Holanda, a faixa-título deixou Almério “eufórico” logo na primeira audição. “Me arrebatou porque eu sou muito atento às coisas que estão à minha volta, e, de uma certa maneira, viver de arte é ter esse pacto com o tempo. Estar presente no agora e olhar as transformações acontecendo para que, de alguma forma, a gente possa interferir positivamente na vida das pessoas”, assinala. “Bora agora!/ É pra já, pra ontem!/ Anotem!/ O mote do dia D/ Da hora H/ Do pingo no i/ Do olho no olho/ Do tête-à-tête/ Do cheiro da pele/ Do frio na espinha/ Do corpo a corpo”, conjectura a letra, cuja gravação foi disponibilizada em forma de videoclipe no YouTube, em que Almério realiza um forte dueto com Chico Chico, filho de Cássia Eller. 

“É uma música que nos convida a estar presente nas coisas, diante da velocidade impossível que a gente vive e que gera essa inversão de valores, com as pessoas trocando o mundo real pelo virtual, criando realidades paralelas para se sentirem bem”, critica Almério, que, no decorrer das faixas, abre-alas para Zélia Duncan, Mariana Aydar, Juliana Linhares, Zé Manoel e Juliano Holanda, produtor e parceiro de longa data, responsável por “traduzir as ideias” e a concepção artística do anfitrião, investindo em “um caminho analógico” que resultou em um álbum “visceral, pulsante e verdadeiro, feito para ser tocado e sentido como eu sou no palco”. Cercado por amigos, inclusive da banda que o acompanha na estrada, Almério desfila com suas “fontes e influências”.

Encontros de toda uma vida 

Na adolescência, Almério tinha uma banda de rock e andava com os discos de Zélia Duncan na mochila. Agora, os dois unem as vozes em “Suspiro”. Com Juliana Linhares, ele atuou no musical “Gabriela”, de João Falcão, em 2016. Ela e Mariana Aydar comparecem em “Beijo Beijo”. Ao ouvir “Do Meu Coração Nu”, de 2020, Almério diz que “chorou de emoção”, o que justifica a presença de Zé Manoel no descontraído bolero-brega “Antes de Você Chegar”, composto com Ceumar. Para Chico Chico, ele repete o elogio que Rita Lee direcionou a Cássia Eller: “voz de trovão”. A “bênção” fica por conta de Maria Bethânia, com quem ele canta “Quero Você”, trilha da novela “Renascer”, da Globo, e tema do casal formado por Zé Inocêncio e Mariana.

“Bethânia arrebentou minhas represas, renovou minhas águas, tocou em lugares muito profundos da minha alma. Para mim, é a maior artista do mundo!”, exalta. A balada é uma parceria de Almério com a conterrânea Isabela Moraes. Ele sublinha a coincidência de emplacar uma música no folhetim de nome “Renascer”, justamente no momento em que se sente “renascendo”. “Tenho sede de me comunicar e essa conquista só amarra tudo isso. É muito bonito ver a sua música embalando um casal, entrando na poesia proposta pelo diretor, é como se cumprisse a profecia da arte”. Nascido em Altinho, no interior de Pernambuco, Almério tinha o hábito de visitar a fazenda do avô, onde, junto às tias, primos e avós, sentava-se para assistir às novelas.

O pai comprava os vinis com todas as trilhas dos folhetins que saíam, contabilizando mais de 50 na coleção. Almério se lembra de assistir à primeira versão de “Renascer” com a família, em 1993. “É um sonho que está se realizando”, admite. Juliano Holanda arremata as participações do álbum em “15 Segundos”, dando a esse “encontro de toda uma vida” uma noção ambígua. “O disco não acaba em ‘15 segundos’, ele reinicia, é como se fosse um looping”, descreve Almério. Compositor desde os 13 anos, o artista mantém seu “respeito pelas palavras”, que ele “via planando enquanto caminhava pelo mundo”. O cantor se forjou com o tempo, adquirindo traquejo “na lida dos bares”. Hoje, Almério olha “o público nos olhos” e deixa “a música levar” seu canto.

Bandeira LGBTQIA+ na ordem do dia e planos para 2024

Almério conta que continua se inspirando em suas relações pessoais para compor, mas que a presença do outro tornou-se preponderante nesse processo. “Penso muito em como as pessoas vão ouvir e absorver essas canções. Na maioria das vezes, sou tomado por uma melodia e já vem letra, arranjo, tudo pronto”, afiança. Militante da causa LGBTQIA+, ele espera “inspirar as pessoas” para que sua música e sua poesia “sejam agentes de transformação e coragem”. “Não podemos nunca mais voltar para a onda de violência que tivemos no desgoverno passado. Sou, sim, um cantor que levanta a bandeira da identidade sexual e de gênero, porque vivemos em um país transfóbico, homofóbico, com violências diárias, e temo pelas pessoas que se sentem vulneráveis”.

O cantor afirma que “o país está se reconstruindo”, e acredita que “a vocação do povo brasileiro é para a felicidade”. “Somos um povo de coração bom, generoso, que abraça demorado, precisamos recuperar a nossa essência”, conclama. Almério tem “os melhores planos para 2024”, e pretende trazer a turnê de seu novo álbum, “Nesse Exato Momento”, para Belo Horizonte, onde foi sempre “muito bem recebido”. “Espero que as pessoas saiam desse show com uma injeção de ânimo, fazendo as pazes com a esperança e acreditando no amor”. Para tanto, Almério quer superar traumas “da pandemia, da necropolítica, que dilaceraram nosso psicológico”. “É a hora de seguir…”. 

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